Field Music | Plumb

Field Music

Plumb

[Memphis Industries; 2012]

9.0FITA RECOMENDA

ENCONTRE: Site oficial

por Livio Vilela; 09/03/2012

De todas as bandas britânicas colocadas num mesmo saco entre 2002 e 2007, o Field Music sempre foi o garoto nerd, estranho e com poucos amigos da classe, como se o duo formado pelos irmãos Peter e David Brewis existisse nesse momento histórico apenas por uma ironia espaço-temporal. De certa forma, é possível falar que o som conjurado pelo Field Music poderia existir em qualquer momento dos últimos 50 anos. As influencias da dupla até são óbvias e facilmente detectáveis – pop sessentista em geral, carreira solo de Paul McCartney, power pop e uma dose farta do que há de mais quadrado no pós-punk – mas que, pela maneira como eles operam, dá para pensar que os dois chegariam ao mesmo resultado mesmo sem essas décadas de música pop antes deles.

Num resumo bem grosseiro, a sensação de ouvir Field Music sempre foi a de assistir dois caras se esforçando ao máximo para fazer a essência da música pop no seu sentido mais clássico caber dentro da menor estrutura possível. Se Brian Wilson queria colocar uma sinfonia inteira dentro de uma canção, o Field Music tem se esforçado bastante para fazer uma “Good Vibrations” caber dentro de uma música do Wire ou algo parecido.

Nessa tarefa, não dá para dizer que eles tiraram zero, mas ao longo de seus três primeiros discos, a dupla nunca foi excelente o suficiente para ganhar uma estrelinha dourada na testa. Os dois primeiros, “Field Music” (2005) e “Tones Of Town” (2007), mostravam uma banda tão desesperadamente tímida que até nos momentos mais soltos (a ensolarada “She Can Do What She Wants” é um bom exemplo) parecia envergonhada da possibilidade pop que parecia surgir a cada nota. Enquanto a banda-irmã, The Futureheads, urrava a cada bom refrão, o Field Music sempre foi contido demais para deixar suas melodias respirarem.

Depois de um rápido hiato em que Peter virou o ótimo The Week That Was e David o mediano School Of Language, o Field Music voltaria em 2010 com “Measure”, um disco duplo que jogava fora a fórmula dos dois primeiros para uma tentativa corajosa, mas falha, de fazer a banda soar mais “normal”. É um trabalho grandioso que sofria da falta de brilho (num sentido mais de star power do que de brilhantismo) dos irmãos Brewis.

“Plumb”, assim, encontra Peter e David numa encruzilhada: continuar com a ambição de “Measure” ou voltar para miudeza do começo de carreira? A resposta, para o bem da arte, foi achar uma terceira via que combina elementos dessas duas faces da banda.

Colocando 15 músicas dentro de enxutos 35 minutos, “Plumb” funciona como primeiro experimento da banda que deu realmente certo. Mesmo que não dê para achar nenhum conceito comum entre as faixas do álbum, “Plumb” é feito como se tivesse nascido para ser um grande épico como um “Dark Side Of The Moon” ou um “OK Computer”. Só que com tudo feiyo em miniatura, até a catarse.

A solução, ao invés de sufocar tudo, foi cortar e reduzir as canções a sua essência. “Plumb” nem chega a ser um disco de canções propriamente dito por isso: é um disco de parte de canções, peças minúsculas e ideais que vão se colando umas nas outras até formarem uma figura identificável e quase perfeita. É como um LEGO musical em que cada harmonia, cada refrão é uma peça importante de uma reprodução em miniatura de algo milhões de vezes maior. Ouço o disco umas 5 ou mais vezes por semana desde o vazamento e mesmo assim confesso que não sei nenhuma música inteira de cor. No entanto, não passo um dia sem cantarolar alguma das várias quebras de andamento de “Start The Day Right”, o início voz & piano de “Sorry Again, Mate” ou o meio refrão de “Guillotine” (“The glass between the guillotih-ih-ih-ne”).

São essas várias pecinhas que fazem “Plumb” um disco tão recompensador, que a cada audição parece maior e mais complicado do que da primeira vez. É tudo uma eterna surpresa, como se ouvíssemos uma obra gigante que vai se construindo diante dos nossos ouvidos. Peter e David soam como se estivessem ali do nosso lado tentando encaixar cada pedaço de canção num caos meticulosamente organizado que é provavelmente a coisa mais catártica que os dois vão produzir. Como os outros álbuns do Field Music, há ainda um tanto de claustrofobia, mas nunca falta ar em “Plumb”. Agora somos nós que prendemos a respiração por vontade própria – tal qual quem olha um imenso arranha-céu que justificaria a “verticalidade” do nome – no entusiasmo de prever como será a nota a seguir.