Friends | Manifest!

Friends

Manifest

[Lucky Number; 2012]

6.7

ENCONTRE: iTunes

por Livio Vilela; 11/06/2012

O Friends é o tipo de banda que parece ter nascido para ser hypada. Eles vêm de Bushwick – vizinhança em Nova Iorque recentemente ridiculariza num episódio de “Girls”, a nova série da HBO para jovens indies – fazem um som derivado do pós-punk (metade ESG, metade Adam and The Ants), com – atenção para o novo must-have do hype – sensibilidade pop noventista. E ainda por cima a vocalista Samantha Urbani é uma mulher linda, moderna, descolada e free spirited, tal qual uma Beth Ditto pós-“Extreme Makeover”. A esse ponto – quando a banda lança seu primeiro álbum com a fanfarra típica de um lançamento grande do maior conglomerado independente, o Beggars Group – ou você já os odeia ou os ama. Não há muita escapatória.

Não parece ser a intenção do quinteto levantar grandes bandeiras e, apesar do título exclamatório, “Manifest!” não é nada além do que os mais espertos imaginavam que ele seria: apenas mais um disco de catálogo indie com 11 outras músicas piores do que o single que gerou a demanda por esse álbum (“I’m His Girl” essa pérola em forma de conselho relacionamental). O que não quer dizer que o resto das canções seja ruim. Pelo contrário. Como álbum, “Manifest!” é uma boa coleção de canções, que fazem o Friends funcionar tanto quanto capturam emoçõezinhas modernas com esperteza como em “Friend Crush” (“I wanna be your friend / I wanna ask your advice on a week day / I wanna plan something nice for the weekend”), ou quando entram com os dois pés no rock de pista da virada da década (“Van Fan Gor Du”, “Mind Control”).

O centro das atenções é sempre a cozinha rudimentar, mas pulsante, criada por Lesley Hann e Matthew Molnar, que serve de cama para que a vocalista Sam Urbani seja o gancho emocional das canções. Como Karen O há uma década, Urbani é o tipo de garota nascida para ser frontwoman de uma banda como o Friends. Não só por sua imagem perfeita para esse tipo de coisa, mas porque é ela quem consegue pelo menos sugerir certa profundidade num disco conceitualmente raso como esse. Comparada à Karen, Sam é bem menos sofrida (não há nenhuma “Maps” por aqui) e muito mais bem resolvida (I don’t wanna own him, or control him / I just want our souls to be aligned), numa maneira que faz dela quase um bom exemplo para qualquer um com 20 e poucos. E ela realmente sabe cantar, além de fazer umas coisas meio spoken word e até dar uma de rapper. Uma Debbie Harry com trejeitos de David Byrne, imagina. Realmente alguém para se acompanhar com bastante atenção, mesmo que numa carreira solo.

O problema todo de “Manifest!” é que não há muito além da página dois, muito porque eles mal tiveram tempo de escrevê-la. O disco apenas cumpre uma demanda sem atiçar um próximo desejo. É perigoso como estratégia, mas pelo menos compra algum tempo e garante um orçamento decente para a segunda parte, o que parece OK por agora. Esse tipo de banda existe pra externar nossos desejos mais imediatos, mundanos, quase culpados. E isso não é uma coisa ruim – historicamente tudo depende de como expandem essas sensibilidades. Franz, Vampire Weekend, YYYs já estiveram na mesma posição e conseguiram sair bem da encruzilhada. Só depende de quando eles conseguem morder e o quanto conseguem mastigar.