Justin Bieber | Believe

Justin Bieber

Believe

[Universal; 2012]

7.0

ENCONTRE: iTunes

por Livio Vilela; 25/06/2012

Embora eu entenda que (infelizmente) o Fita Bruta não compartilhe exatamente a mesma faixa demográfica de leitores da “Capricho”, é bem possível que todo mundo saiba como isso aqui começou. Mais ou menos 3 anos atrás, um garoto canadense com certa dose de talento é descoberto no Youtube, ganha empresário esperto (Scooter Braun) e padrinho famoso e influente (Usher) e assina com a maior gravadora do mundo (Universal), que alguns meses depois o transformaria (ao custo de muitas jogadas de marketing e de franja) no maior ícone adolescente dessa geração, posição que ocupava sozinho até pouco tempo (One Direction).

A ascensão de Justin Bieber aconteceu num momento de virada do pop mundial, quando Lady Gaga começava a parecer mais uma realidade plausível do que um pesadelo (“Bad Romance”) e as batidas eufóricas de produtores como RedOne e Dr. Luke e David Guetta geravam a sucessão de hits que nos traz até hoje. Ainda assim, o primeiro sucesso global de Bieber seguia outros caminhos. Escrita e produzida pelo trio formado por Tricky Stewart, The-Dream e Christina Milan (“Umbrella”, “Single Ladies”), “Baby” era como um óasis de sutileza num mundo cada vez mais dominado pela grosseria. Mesmo que durasse apenas 3 minutos, era bom se sentir adolescentemente apaixonado como (ou por) Justin Bieber.

Nos dois anos que seguiram “Baby”, Justin tratou de estender sua marca tanto quanto possível, lançando um álbum acústico, um especial natalino, um perfume e um filme em 3D, dominando, enfim, toda e qualquer pauta que tentasse entender o gosto musical pré-adolescente. Ele é(ra) Rei do incomparavelmente fervoroso, mas eternamente transitório Reino das Meninas de 12 anos, uma faixa de consumidores inventada em 1964 pelos Beatles. Qualquer pessoa que já tenha governado tal Estado – Michael, Timberlake, Britney, Jonas, Avril – passou (ou parou em) um momento em que teve que largar a coroa e encarar o desafio de governar para qualquer público, transitar entre nichos, agradar o resto da família. “Believe” é a primeira tentativa de Bieber de expandir seu reinado, enquanto ainda mantém controle sob seu antigo feudo.

É difícil pensar num álbum de 2012 que tenha sido forjado sob tanta pressão mercadológica quanto “Believe”. Maior do que todos os outros competidores com a mesma janela de lançamento, Bieber estava numa posição em que ele podia ter qualquer tipo de produtor, compositor ou truque de marketing a seu dispor para que o álbum desse certo, e dá para afirmar que ele aceitou boa parte das propostas que chegaram a sua mão. A lista de colaboradores – entre feats, produtores e compositores – excede as 5 dezenas e isso não é exatamente culpa de Bieber, mas do modus operandi do pop em 2012 (não se engane, até as rainhas da “música de verdade” Adele e Beyoncé tem um número parecido de pessoas envolvidas nos seus últimos projetos). Assim, é difícil culpar “Believe” por ser não ser uma obra fechada, um “álbum” no sentido clássico e rockeiro do termo. Não é um “Thriller”, nem um “FutureSex/LoveSounds”, mas parece um passo nessa direção.

Mesmo com tanta gente envolvida, Justin consegue fazer do seu primeiro grande trabalho uma obra minimamente coesa, muito porque ele tem presença e carisma suficientes para deixar tudo com a sua cara – o que calha de ser a cara do Top 40 americano. “Believe” tem um Bieber para cada pessoa, mesmo que todos eles sejam o mesmo garoto conservador e apaixonado que conhecemos em “Baby”.

Assim, ele fecha o primeiro círculo da sua carreira abrindo o álbum gravando com Ludacris uma música cujo refrão fala como “No mundo todo as pessoas querem ser amadas” (“All Around The World”), para em seguida puxar para si a responsabilidade de ser o namoradinho da América que Timberlake não quis ser. Em “Beauty And A Beat” ele passa pela tutoria do cara que inventou o som dos últimos 15 anos do pop teen (Max Martin), enquanto olha para os próximos 15 brincando de dubstep no refrão de “As Long As You Love”. Com Drake, ele faz uma música Drake com censura e temática Bieber (“Right Here”), e com o último produtor de Michael Jackson (Rodney “Darkchild” Jerkins) ele grava uma deliciosa ode ao Jackson 5 (“Die In Your Arms”). Vendo o sucesso de seu mentor sob a produção de Diplo (“Climax”), ele chama o ex-M.I.A. tanto para namedropping quanto para que o ex-M.I.A. lhe desse pistas sobre a essência do som, o que resulta no pop sugar high de “Thought Of You”, a melhor do disco.

Com tantos holofotes apontados para Bieber, não era de se esperar que “Believe” fosse o mais arriscado dos álbuns. Mesmo assim, Justin deixa aberta, no finalzinho da versão deluxe, a possibilidade de um futuro mais espontâneo. Escrita sobre o “caso Mariah Yeater”, “Maria” é o único momento de “Believe” em que conseguimos ver um pouco além do vidro fumê e da parede de seguranças. Embora a música copie “Billie Jean” de maneira quase memética, é bom ver que Justin pode ser apenas Justin se ele quiser.

Num momento em que até gente com 50 anos nas costas que não tem nada mais a provar tropeça na crise de identidade (ver: “MDNA”), “Believe” triunfa por entender que é o Pop que tem que se curvar a Justin, não o contrário. Nada mal para quem tem só 18 anos.