Karina Buhr: Longe de Onde

Quando Karina Buhr surgiu com seu “Eu menti pra você” (2009), já era a verve das suas palavras que se destacava, acima de uma série de músicas interessantes porém bastante irregulares. Em “Longe de onde”, o novo disco, a letra – a palavra (“cada fala, cada palavra / ganha novo significado para mim”), o verbo (“depois de tanto verbo / a pessoa morre”) – é o que se mantém central na música de Karina. Com o diferencial de que neste disco as músicas se adequam, em arranjos e timbres, a essa verve, tão diferente dessa doença que acomete a grande maioria das nossas cantoras: a covardia, o medo da música, como diria alguém do Talking Heads.

Por isso, ainda que “Longe de onde” se mantenha distante de um álbum memorável ou impecável- há ainda músicas de desenvolvimento pouco interessante – é um disco que se pode facilmente elogiar ou bendizer no atual cenário musical brasileiro. Como uma Gal Costa (esse, sim, um nome onipresente quando se fala da atual geração de cantoras brasileiras), mas uma GAL LOKA DE ANFETAMINA, Karina se apresenta como uma das mais interessantes cantoras brasileiras atuais, especialmente quando faz uso das distorções – seja nos seus gritos agudos ou em guitarras mais cheias de peso e força do que as de qualquer banda de rock que toca hoje nas rádios.

Mas é mesmo nas palavras que “Longe de onde” se mostra mais interessante. Karina subverte várias vezes o tema mais batido das cantoras brasileiras atuais – o amor, o relacionamento a dois – em faixas como “Não me ame tanto” (“não me ame tanto / eu tenho problema com amor demais, eu / jogo tudo no lixo”), enquanto é ironicamente acompanhada por uma baladinha que poderia figurar em qualquer disco de cantora-fofura de 2011. Em “Pra ser romântica”, outro exemplo, Karina começa genialmente com “Hoje eu dei / pra ser romântica / perto de você não me vejo só / de você quero distância”. Ou ainda “suas qualidades vão sumindo / e seus defeitos aparecendo cada vez mais”, em Cadáver.

Além disso, Karina não tem medo de se valer da morte (“depois de tanto verbo / a pessoa morre” ou “me dê um copo de veneno, pelo menos / preu morrer”) ou do asco (“eu como e gozo / dentro”), como tema. É nesses momentos – sem medo da feiúra, do nojo, do não amor, que Karina se mostra mais original e útil à música brasileira dessa década. Meninas, aprendam.