Karina Zeviani | Amor Inventado

Karina Zeviani

Amor Inventado

[Som Livre; 2012]

6.2

ENCONTRE: iTunes

por Túlio Brasil; 10/01/2013

“Fazer um doce” é uma das expressões mais felizes deste Brasil. Sintetiza a cadência charmosa de titubear entre o não e o sim sem ofender, e ainda rende uns sorrisos. Karina Zeviani faz muito doce no álbum solo que assina, “Amor Inventado”. A menina do Nouvelle Vague cria uma trilha sonora com canções bonitas e melodias alegres, um guia cheio de exageros de imagens sonoras. Background ideal para cenas pós-processadas no Instagram.

O indie-pop belisca a MPB nessas 12 faixas, permeadas por vícios e ganhos. Num tom adorável, Karina canta calma sobre uma cama de instrumentos na extrema fofurice, com xilofones, repetição de acordes básicos de violão em tempos largos e graves que amortecem a levada, além de eventuais naipes de metais, que em todo álbum servem para subir junto com a lírica o nível lúdico das canções. A letra de “Buiu”, por exemplo, é um roteiro de animação infantil, por sua inocência e por uma sequência inesperada na pequena narrativa.

A chave que gira na caixinha de “Buiu” também gira em “Miguelito” e “Muda Mudante”, numa repetição de temas. O formato das músicas favorece as intenções de Karina, a maioria não excede três minutos e meio. Além disso, as semelhanças convidam o ouvinte para uma audição completa sem entediar, alternando entre tango e reggae na dinâmica das músicas, ou optando por concentrar tudo num clima intimista para a voz se sobressair (como em “Carta”, em que Karina homenageia Marisa Monte).

Com tantos penduricalhos, é difícil não se exceder nessa estética e cair em alguns vícios. Existem momentos em que “Amor Inventado” ruma para a “música de fundo daquela livraria legal, mas cara”. Isso vem quando a repetição no clima inimista vira insistência. E também pelo eruditismo chato nas letras, as ênclises sacais de “Água de Coco”; ou quando tenta refrescar o vocabulário em “Update”, em que cai em um clichê amoroso desnecessário. Karina vende o doce sem pouco caso, mas ilude no charme. O flerte funciona no clima predominante no álbum, embora não dure até o final.