Leonard Cohen | Old Ideas

Leonard Cohen

Old Ideas

[Columbia; 2012]

7.2

ENCONTRE: Site oficial

por Túlio Brasil; 16/02/2012

Memórias deixam de existir quando não há um motivo que as prenda. Leonard Cohen conta com uma discografia respeitável para garantir as suas. Poeta e cantor, o canadense tem um histórico de sucesso raro. Acima de grau de popularidade, ele consegue impactar pessoas com uma mensagem sublime genuína. Suas composições, estúpidas de tão boas, fabricam lágrimas involuntárias, gerando reações que explicam porque a música vai além da lógica. Há tanto mito invocado sobre ele que se esquece que Leonard é, também, uma Pessoa Normal. “Old Ideas” é uma análise sóbria da idade e da identidade do artista com setenta e sete anos.

Na primeira faixa, “Going Home”, o diálogo personagem versus sujeito aparece bem no início. “I love to speak with Leonard / He’s a sportsman and a shepherd / He’s a lazy bastard / Living in a suit”. A reflexão cabe pelo choque natural em que ele passou sua vida inteira, se é deslumbrante ouvir suas canções; imagine-se na posição dele ouvindo a repercussão. Acerta com palavras metas intangíveis com armas, e a cada declaração direcionada a si pergunta-se se é isso mesmo. Sua certeza é o controle dessa pessoa pública encantadora, mas que não se deslumbra por dentro.

Guia-se pelas palavras e deixa o som a cargo de seus produtores¹. Não é um spoken-word, mas a montagem das canções privilegia a entrada natural e grave de Leonard. Nunca foi especialista em estripulias vocais: sua simplicidade é marca. Assim como não esconde a idade, mais rouco, ele usa isso como argumento e explora um lado mais sóbrio nas canções. “I know my days are few”, diz ele em “Darkness” sem nenhum receio. Cria um sintagma estruturado pela voz que denota a velhice e sublinhado pela letra de quem conhece seu destino. Uma atitude corajosa que a maioria dos fãs evitam pensar sobre.

Todas as faixas de “Old Ideas” inspiram um clima de bar com pouca agitação. Passadas lentas para Leonard, algumas músicas com entradas de sax e muito teclado Hammond. “Amem” é a única em que a musicalidade das palavras é explorada como um proto-refrão. Não é um estímulo mobilizador de massa, mas corrobora com o círculo “smooth” que perpetua no álbum. Pura classe, como observa-se também na singela “Anyhow”.

Como o título alerta, não há novidades nesse disco. Muita idade não inspira inovação, motivo de orgulho é quando se mantém a sanidade. Com “Old Ideas” Leonard Cohen escreve mais um capítulo em sua bela discografia. Não caprichou tanto quanto antes, mas também nem precisa disso. Requinte é especialidade do cara.

¹ O produtor de Old Ideas é Ed Sanders.