Liars | WIXIW

Liars

WIXIW

[Mute; 2012]

9.0FITA RECOMENDA

ENCONTRE: iTunes

por César Márcio; 06/06/2011

As pessoas ouvem o que o Liars tem para dizer, as pessoas olham o que o Liars tem para mostrar e tudo se resume a uma palavra: tensão. No ínicio, quando grosseiramente poderiam ser encaixados na onda post-punk revival do começo da década passada, já havia um ambiente conflituoso que serviu para diferenciá-los da galerinha mais feliz (e, merecidamente, sumida) e que persiste até hoje. Houve um ensaio de comodismo na transição entre o imaginativo “Drum’s Not Dead” e o muscular “Liars”, um álbum de aparente busca por normalidade. Porém, a transição ocorreu realmente em “Sisterworld”, uma insinuação das predileções do trio, atualmente. E como é de conhecimento geral que o negócio deles não é conforto, entre as múltiplas personalidades de “Sisterworld”, os três resolveram assumir a que menos aparecia, até então. O que nos leva ao sexto e, como sempre, audacioso álbum da banda, “WIXIW”, o disco eletrônico do Liars.

Reducionista e preguiçoso como parece ser, o trecho “disco eletrônico do Liars” é, ainda assim, bem revelador do que o ouvinte encontrará. Influenciados ou em confluência cósmica, o grupo se encontra com o Radiohead em passagem idêntica quando saíram do rock de “Ok Computer” para o eletrônico em “Kid A”. A comparação torna-se irresistível à medida que Angus Andrew molda sua voz em formato mais melódico na abertura “The Exact Colour of Doubt” para, imediatamente, conectá-la à de Thom Yorke em “Everything In Its Right Place”, primeira faixa de “Kid A”. Não é o único momento de conexão: em meio às primeiras experimentações com field recordings, Andrew se veste de Yorke novamente em “Ill Valley Prodigies”.

A questão da tensão como força motriz não impede que a aproximação com a eletrônica resulte em passagens relativamente amigáveis. O single “No.1 Against the Rush”, por exemplo, é uma clareira na constante de escuridão. Existe, aqui, algo de simulação (nessa faixa há uma tendência de se repetir aqueles manejos clássicos do krautrock, como sintetizadores em escala do Tangerine Dream e as batidas do Kratwerk), porém essa opção é bem-sucedida na medida que simular é apenas um primeiro passo de uma construção cuidadosa. O que não acontece em “Brats”, único momento comedido do álbum, preso por um pouco imaginativo contexto de eletrônica (electro) de pista.

Se são poucos apegados a gêneros, os integrantes da banda parecem reservar certo ar ritualístico às melodias vocalizadas, característica presente em toda a discografia. Faixas diversas como “A Ring On Evry Finger” (eletrônica experimental feita para caixas de som ou fones de ouvidos de maior sensibilidade), “Flood to Flood” (dub) e “Who Is the Hunter” (techno) guardam semelhanças aurais, como se estivessem interligadas a despeito de suas tendências desconexas.

Essa predileção por um canto de ritual reforça ainda mais a impressão de que todo o processo de criação é sempre muito tenso. Para uma banda sempre disposta a partir para o confronto, a opção pode ser um inconsciente chamado para a guerra. Alguns momentos de “WIXIW” mostram que eles estão prontos para a paz, também. Só que o Liars vai sempre preferir a tensão. Talvez porque, assim, se tornou um dos grupos mais curiosos, consistentes e importantes da música americana atual.