Lotus Plaza | Spooky Action At A Distance

Lotus Plaza

Spooky Action at a Distance

[Kranky; 2012]

8.0

ENCONTRE: Kranky

por Rafael Abreu; 10/04/2012

Discos de guitarra são perigosos. Nessa altura (2012) do campeonato, então, criticar um trabalho desse tipo é um perigo, quase uma armadilha. De um lado, a indulgência tecnicista (e vazia) de gente que sabe de partitura, mas não necessariamente de música boa: o assunto, então, é o tipo de progressão harmônica, a complexidade dos acordes, o ato de conferir, na audição, algum tipo de guitar hero, um cara que sabe mexer com o instrumento. O que é um bocado, mas pode ser pouco, dependendo do trabalho. A possibilidade que resta, então, é tentar encontrar, identificar e avaliar a existência num mero disco de guitarra – num simples disco de rock – algo como uma força, algum tipo de imaginação. E o que torna essa tarefa tão espinhosa é o fato de que as coisas podem ficar facilmente exageradas – ouvir além do que se realmente tem – ou incrivelmente minúsculas – os adjetivos “apto”, “esperto” e “acertado” vêm à mente, em questão de resenhas simplistas.

Pois bem, “Spooky Action at a Distance”, segundo disco solo de Lockett Pundt, guitarrista da já célebre e sólida Deerhunter, é um disco de guitarra. É, também, um disco de rock puro e simples, de guitarra-bateria-baixo-vocal. Essa é a parte traiçoeira e mínima do disco, a que se resume à superfície. Porque “Spooky Action…” também tem a ver com a voz de jovens com tanto tédio quanto deslumbre, com um disco cuja zona de segurança é incrivelmente generosa, em termos de qualidade e com um rapaz que bem sabe organizar uma série de manobras estilísticas de modo que não sejam só manobra, não visem a somente um efeito, mas também um sentido. Essa última parte é talvez a mais importante, a atmosfera meio noventista que morde os calcanhares de “Strangers” ou “Black Buzz”, as guitarras em loops ascendentes, descendentes, repetitivos.

A verdade é que a beleza de “Spooky Action…” é uma beleza de revisita. É preciso dormir com discos sempre, mas este é um disco em que o ato de tê-lo na própria cama, a entrega que é estender o tempo de vivência com o namorado (ou namorada) de 45 minutos que Lockett parece ter criado é essencial, a risco de que a experiência mal valha, se a vez for uma só. E é correto dizer que “Spooky Action…” é um trabalho que deve ter nascido da fé nessa vivencia, na certeza de que esse disco não vai ser descartado como o trigésimo álbum ouvido no dia corrido de um jovem “por dentro” de “música” (por dentro de tendências). É o tipo de coisa que se encontra em todos os cantos de “Desire Lines” e “Neither of Us, Certainly”, faixas que realizavam toda a ondinha de “punk ambiente” que o Deerhunter mandava, no início da carreira: o que há de incisivo em guitarras a serviço de uma experiência tão aplainada (melíflua) quanto expandida. Não é à toa que grande parte dessas duas faixas consiste em voltas sonoras.

“Spooky Action…” então, exige um ouvinte à moda antiga, alguém que se dê o tempo e o trabalho de, nas próprias circunvoluções que o disco inteiro dá, encontrar pequenos pontos, fenômenos mágicos e concêntricos de um emaranhado de alta fidelidade sonora. Um ouvinte ideal, enfim.