*por Mateus Campos, do Amplificador e do Globo A+

Desde que a estrada do Mamelo Sound System se dividiu, seus integrantes parecem ter seguido por caminhos ligeiramente distintos. Rodrigo Brandão, que agora dá uns rolés com o Zulumbi, foi para a rota dos tambores africanos. Lurdez da Luz, por sua vez, escolheu o lado do tamborzão hi-tech.

Não que a MC de São Paulo despreze nossas raízes africanas. Afinal, ninguém que se proponha a fazer música popular no Brasil pode cometer esse erro. Mas “Gana pelo Bang”, seu segundo álbum solo, é um tributo ao baile. Ou ao heavy baile (conheça), se você preferir. E “Mama Drama”, música que abre o disco, dá logo esse recado: “Mama só quer dançar”.

“O beat bate pesado pique El Cabong“, ela diz, em uma referência quase cifrada ao Speed. “Gana pelo bang” é cheio de interseções entre hip hop, trap, rasteirinha e outras ramificações contemporâneas da música eletrônica. Não é coincidência que Leo Justi e Leo Grijó, que têm se destacado nessa seara, tenham produzido faixas do disco. Se estivesse por aqui, Speed, que transava essas misturas, iria curtir demais.

Lurdez também vai bem quando se embrenha em outros ritmos. A certa altura, ela dá as caras com “Beijinho”, um reggaezinho talhado para fazer sucesso na rádio. A vocação pop que havia aparecido no disco de 2010 foi reforçada, ainda bem. “Poder”, com Russo Passapusso, ajuda a reforçar esse tempero no álbum.

Mas a melhor de todas é um rap de almanaque: “Fila nas lojinha”. A faixa tem participação de Raphão Alaafin, joia das divisões de base do rap nacional. Brasil é gol de placa. “Naija”, uma das últimas músicas, anuncia em caps lock: “O BAILE É NOSSO”. Nem precisava avisar: geral já estava com gana por esse bang desde o começo.