Maga Bo | Quilombo Do Futuro

O que Maga Bo traz em “Quilombo do Futuro” não é Pelé e Galvão Bueno se embolando no Rose Bown Stadium em meio aos gritos desesperados de “é tetra”, ignorando o futebol regular daquela seleção centrada em algumas figuras iluminadas. Mas essa cena poderia ser transposta para o mercado musical contemporâneo com uma alteração crucial: o estrangeiro a nos dar a glória teria, sim, pontaria afiada. Sai Roberto Baggio, entra Maga Bo.

“Quilombo do Futuro” expõe o que a gente finge não ver e o que eles compram vez ou outra nos festivais mundo a fora em que tocamos. Quando “No Balanço da Canoa” toca nas principais radios alternativas mundo afora (a faixa foi destaque em várias delas), leva muito mais do que um triângulo, a zambumba gravíssima, a Rosângela Macedo e o Marcelo Yuka. Leva um aviso quase rebelde de que não estamos devolvendo a eles o que se despeja musicalmente em idioma inglês em nosso horário comercial de rádio e televisão.

Chega a dar arrepio falar em “nosso”. Nada é nosso. É que aprendemos a engolir que uma beleza. Mas, cordiais, esquecemos de vomitar o ridículo. E, aqui, eu acho que a cordialidade é quase um esforço diplomático porque certamente vomitaríamos tudo. Portanto, voltando a “Quilombo do Futuro”, o que você vai ouvir é um americano baseado desde 1999 no Rio de Janeiro trazendo alguma emoção pra música brasileira. E quando Maga Bo grava, transforma e aglutina essa música em produto, eis aí a mágica, ela vira uma música de construção etérea. Você não tá ouvindo forró, você não está ouvindo samba, repente, ragga. “Piloto de Fuga” e “O Neguinho”, que tocariam no Rio de Janeiro com enormes ganhos para o funk caso a FM O Dia tivesse culhão (e tem – mas o caso é que o jabá é maior), são as únicas exceções. Porque ali é funk mesmo. E é difícil lembrar qual foi a última pessoa que pensou no funk carioca sem abusar dele como chamariz de palhaçadinha e para unicamente pensá-lo como gênero transgressor do nosso país.

Desfrute de “Quilombo do Futuro” como se fosse um botão randômico e radiofônico que passeasse pela América Latina e pelo mundo só que sem chiados, sem comerciais e, o mais importante, sem erros.  “Quilombo do Futuro” é um gol necessário, daqueles que, só entrassem, dariam satisfação e grito. Mas que é feito com esmero de jogador de música de Jorge Ben. Maga Bo joga bonito em sua recriação de um universo contemporâneo ghettotech/guettotech. Em um 2012 de insistencia por parte dos bonitinhos barulinhos e tecladinhos em fazer a música mais óbvia de 2004, que Maga Bo seja o curador deste ano para que outros álbuns tão interessantes e potentes, eu disse potência, surjam no país. “Quilombo do Futuro” é barulhão.