Scissor Sisters | Magic Hour

Scissor Sisters

Magic Hour

[Polydor; 2012]

4.5

ENCONTRE: Site Oficial

por Rafael Abreu; 12/06/2012

Verdade seja dita: o Scissor Sisters é uma banda de casamento. Vestindo ternos de lantejoula, suspensórios, regatas extravagantes e um ou dois chapéus por vez, fazem discos retromaníacos como se fossem uma atração bizarra de uma festa igualmente estranha. E como não poderia ser diferente com uma banda derivativa (NÃO leia o termo pejorativamente) emularam cenas, reproduziram fantasias e compuseram músicas se apropriando da força de seus ídolos. Homenagearam, então, numa carreira de pouco mais de dez anos e três discos-cheios, tudo quanto é kitsch – Elton John, Abba, Bee Gees, a São Francisco Hi-NRG e a disco music mutante de Nova Iorque servindo tanto de ponto de referência quanto de espelho pra música que o grupo fez e faz, até agora.

Toda verdade, além da beleza, tem razão de ser dita, e a razão, aqui, é a que o Scissor Sisters é uma banda do menos pretensioso tipo de música pop: a que não se projeta. Disco após disco, o que se ouviu dos rapazes (e garota), até agora, foi menos música como Arte – maiúscula, austera, solene e sem data – do que produtos efêmeros, e nem por isso menos essenciais à vida de tudo quanto é mortal que se interesse por canções. Pois o grupo aqui em questão parece se preocupar muito menos em se pôr à parte do jogo de mercado do que se envolver com ele e tirar, dali, o máximo que se pode fazer, com algum tipo de amarras, por mais invisíveis que sejam. O Scissor Sisters, quando acertam, fazem hits, não obras. Sem dar muita atenção ao assunto, se põem no mapa e tentam, do jeito mais rádio, se enquadrar em alguma História.

O que nos leva a “Magic Hour”, o quarto álbum de um grupo cuja atenção se dá principalmente a radiofonia e divertimento, no processo de pôr um espírito (uma voz) em movimento. A questão principal, tanto no disco quanto na banda, é que música divertida não implica música vazia. São duas coisas diferentes, e há tanta verdade e força numa pista de dança quanto no interior de sabe-se lá quantos eus líricos se propuseram a perscrutar os seus próprios donos. O problema, em “Magic Hour”, é justamente esse, aliado a um alinhamento da banda a uma lógica mais de tendência do que essência.

O Scissor Sisters já são conhecidos por forçar os limites do exagero, e se diria até que eles encontraram um ponto de equilíbrio pra uma qualidade tão periclitante. O problema, aqui, é justamente quando o limite é extrapolado. “Magic Hours”, se esparramando em doze faixas permeadas por disco music, glam, techno, “rap” e, lá e cá, uns sintetizadores de bate-cabelo, cambaleia entre maneirismo apurado e o ruim e velho farofa.

“Shady Love”, o single cujos vocais se dividiram com a queridinha do hype Azealia Banks, é uma faixa que sintetiza bem essa tensão. De um lado, o rap adocicado de pontes de singles pop – pensar nas rimas meio travestidas que Lady Gaga ou Britney Spears já mandaram – e o eletro básico e sacana. De outro, o refrão à diva, a batida alçada às últimas alturas e Azealia, dramática, emprestando uma solenidade inesperada à faixa. Uma canção supérflua, fútil, pegajosa, vergonhosa e irresistível, embora, vá lá, meio ruim. E é esse o dilema do disco, o que reúne, no mesmo espaço de álbum, a besteira baladística de “Only Horses” e “Year of Living Dangerously” ao bom funk de cabaré transsexual de “Baby Come Home”, por exemplo.

A decepção é que, de um disco inteiro, aproveitam-se plenamente talvez três faixas, ironicamente as três que abrem o disco – a já citada “Baby Come Home”, “Keep Your Shoes” e “Inevitable”. Fora isso, o que resta é a casca de um disco que se presta mais a estilismo – à exploração do meramente excêntrico no maneirismo e na extravagância – do que aos prazeres desavergonhadamente essenciais do pop pelo pop, da música pelo entretenimento.