Michael Kiwanuka | Home Again

Michael Kiwanuka

Home Again

[Polydor; 2012]

8.2 FITA RECOMENDA

ENCONTRE: Site oficial

por Túlio Brasil; 21/03/2012

O Reino Unido se derrete pela música negra de raiz nos Estados Unidos. Fabrica cantoras talentosíssimas que mantém um estrondoso sucesso, como Adele; contraventoras e originais, Amy Winehouse; e até umas que falharam nos requisitos do currículo, Duffy. Da mesma terra, e fã do gênero, Michael Kinawuka é naturalmente o par masculino delas, mas dá motivos para se diferenciar.

Talentoso e aficionado por Otis Redding (aposto), Michael é um cantor de soul paciente e contemplativo. Seu primeiro álbum, “Home Again”, é um apanhado de lamentações, poucas viradas felizes e histórias sem desfecho, mas com alguma esperança. Música de abertura, “Tell Me A Tale”, é um pedido de desesperado do autor que acaba de começar seu disco. Com atenção nas próprias canções, talvez Michael encontre o tal amor no meio delas.

Devoto de uma insensatez, emenda a lamentação com a esperança na faixa que dá nome ao álbum (“Home Again”) e representa a ambivalência lírica do disco, de expor seus sinais de fraqueza e logo inspirar uma retomada. Ele toma um discurso simples sem muitas delongas, é singelo e se aproxima da vertente mais gospel do soul para se expressar. Sem ser catártico, Michael sabe que explorar sua voz é também cantar baixo e sem os trejeitos eloquentes da voz que arrebata multidões. Isso garante uma beleza particular do seu álbum, poderia estar cantando alto, mas se dedica a espreitar na encruzilhada de suas canções.

“Bones” carrega um clima de 60′s extravagante. Até um ruidinho na captação da bateria escapa. A voz de Michael tomando o primeiro plano na música, e em seguida complementada por um coro de backing vocals no refrão desenha a perfeita imagem de um bar de música negra nos anos 60′. A estética vintage almejada é plena sem forçações de barra ou dissimulação absurda de referências. É nítida a vontade de cantar como em 1960 num álbum de 2012, e ele o faz preservando um lado autoral através de suas lamentações e surpresas incidentais, tais como o naipe de afrobeat encontrado em “Tell Me a Tale” ou o violão mezzo folk em algumas canções.

Seu esmero dá a impressão de um músico consciente de seus cânones, mas que não abre mão de outras referências. Falo aqui de um diálogo com vertentes da música marcada como “negra”, não de uma profusão de ritmos assaz distintos. Kiwanuka parece um grande intruso das festas em Memphis que se resignou no canto. Ouviu todo mundo cantar, olhou bem para os melhores músicos, foi congelado, e agora gravou suas histórias.

Ele garante que a preocupação anda a seu lado, assim como diz que dá um jeito e espanta motivos de alarde. Se é essa a aflição que o leva pra frente, que venha mais por aí. Não é desejar mal, apenas são votos de apoio ao sentimentalismo no universo dos céticos desenfreados. Descobrir qual lado se pertence é inútil no meio de tanto paradoxo, é isso que ele canta, como passar e esquecer.