Mr. Catra | Com Todo Respeito Ao Samba

Mr. Catra

Com Todo Respeito Ao Samba

[Independente; 2012]

3.5

ENCONTRE: Fita Bruta

por Yuri de Castro; 21/11/2012

Em seu primeiro trabalho fora do pseudo-gangsta-funk, o ex-roqueiro Wagner Domingos se escora em Pedrinho Ferreira (ex-produtor do Só Pra Contrariar) para iludir. Inclusive a nós, do Fita Bruta, que lançamos não-oficialmente o disco. O que era um produto de interesse geral da nação se mostrou uma armadilha em vários sentidos. O cara que zoa na 4×4 e diz que vai rolar adultério, que transforma uma canção brocha do Chiclete Com Banana em hit pirata e que faz a vez de Serge Gainsbourg em um dos pagodes mais pau-duro do século XXI vem agora de mimimi dizendo que o samba precisa de respeito? Colé, cumpadi. Se liga, playboy.

O “você sabe com quem está falando”, ao que parece, vai ficando obsoleto. Quando a sintaxe torna-se amiga da carteirada (ou seja, do não-argumento), algo não vai bem. E é legal que as pessoas se toquem disso. Mas ainda sobram “você sabe com que está falando” a rodo na música brasileira. Quando o nome do artista não se impõe, o artifício é explorar a tradição como forma de botar banca. É dessa maneira que Mr. Catra se apresenta em “Com Todo O Respeito Ao Samba”. E o resultado é tão infantil quanto o machismo desnecessário da maioria de suas letras.

O que choca em “Com Todo O Respeito Ao Samba” é justamente seu antídoto: Mr. Catra explora muito bem um terreno que não parecia tão plausível a quem lhe vê corroborando com um machismo bobo e pueril em cima dos palcos. Aí mora o perigo: Catra usa o samba e todos os seus clichês como escudo para entrar no procedê. É um morde e assopra em que o ato de morder é aqui ou acolá — por todo o resto é assopro para que alguém o aceite.

E a gente sabe: o samba e, claro, o funk mordem. Quando um tapinha não dói, melhor mudar de faixa.

Catra escolheu Márcio Local como principal compositor do álbum. Local é um músico que emplacou um ‘sambinha na trilha do jogo Fifa 10 e assina a maioria das faixas com letras que deixam este trabalho engolível para quem precisa aceitar o MC.  Para este papel, temos “Swing 021”, “Baseado na Lei”, “Chapa Quente” e “Happy End” que flutuam entre os clichês do samba-rock.

Este álbum de Mr. Catra é um alerta e um dos sintomas da necessidade de reciclagem do gênero. Em qual ponto o samba, ao ser engolido pela alta difusão, transformou-se não só em universal mas também em banal? O pior: em que momento isto está sendo feito não apenas por novatos aproveitadores, mas também por um sem número de medalhões midiáticos? Qual foi o último bom álbum de Zeca Pagodinho? Como Arlindo Cruz sustenta-se senão por suas bobeiras feitas em vinhetas na Rede Globo? Aliás, a última coisa que Mr. Catra tem em sua composições voltadas aos bailes é respeito. Por que o MC acha que o samba, acostumado com a marginalização e subversão, precisa de respeito?

De alento, “Com Todo o Respeito Ao Samba” traz “Mangueira é Mãe”, musicão de Serginho Meriti e Claudinho Guimarães que vem se tornando uma das melhores coisas já cantadas na voz de Alcione. De resto, este álbum de Catra é mais um produto embebido em arranjos que parecem saídos de uma gaveta que parece ser arrombada a cada disco de samba. Mr. Catra pode ser o trampolim para que possamos ponderar se, talvez Belo, Thiaguinho, Péricles não sejam lá tão interessantes e, sim, pessoas que sabem mexer bem na gaveta dos genéricos. Catra usou a gaveta de 2002 e, no final, seu álbum é tão irrelevante quanto os do Marcelo D2. A batida perfeita é uma enganação — e careta.