Norah Jones | Little Broken Hearts

Norah Jones

Little Broken Hearts

[Blue Note; 2012]

6.2

ENCONTRE: iTunes

por Túlio Brasil; 09/05/2012

Dez anos depois, é recompensador ver Norah Jones irrestrita ao seu primeiro hit, “Don’t Know Why”. Ela era certa como jovem promessa da Blue Note, a nova estrela para uma música “adulta” e contemplativa dentro de parâmetros consagrados. Norah atendeu a expectativa e não causou frustração alguma em sua breve discografia, e isso é um problema chato. Fácil de caracterizar como “uma cantora de Jazz”, ela procura em “Little Broken Hearts” se afastar do estereótipo.

Não é o primeiro passo. A coletânea de participações “…Featuring” a aproximava com outro esquema, , mas foi em sua colaboração no projeto ROME de Danger Mouse e Daniele Luppi que tomou gosto de vez por um caminho alternativo para sua voz. Danger Mouse evoluiu de mero parceiro para produtor e definiu um novo formato para a cantora. Um silêncio costuma acompanhar as cantoras de vozes delicadas em músicas lentinhas, como se alí houvesse um espaço para elas cantarem além. Disso Norah provou antes, e Danger Mouse a leva para outro caminho. Não necessariamente inovador, mas com uma roupagem mais interessante.

As canções de “Little Broken Hearts” são leves e recheadas de um apego para cantar junto. “Good Morning”, “Say Goodbye” e a irônica anti-depressiva “Happy Pills” são repletas de climatizadores. Em todo espaço do som surge um adjetivo, pelo timbre defasado do violão, leve distorção de voz ou agudo suave disparado por sintetizador em composições pensadas para privilegiar a voz. Afinal, trata-se, sem deméritos, de um disco de cantora. Ganha pontos extras por não se bastar em jogadas óbvias.

Os temas variam do mais apaziguador a tiradas com drama sublinhado. Dramático é pelo todo, como o título denuncia, mas varia para manter uma concisão no álbum. Fruto de uma produção muito metrificada, preocupada em acertar de todos os jeitos (mas sem atirar para todos os cantos). Isso bate num ar vintage, ruidinhos e até na quase perfeição sonora da balada melancólica “She’s 22”. E a questão implícita nisso tudo é: até onde isso serve?

São belas as músicas, a interpretação e o disco tem suas referências cifradas — por exemplo, a capa é baseada no poster do filme “Mudhoney“, de Russ Meyer. Esse equilíbrio aparente de um “bom gosto”, porém, transforma o álbum em música de lounge. Reina a impressão de que as faixas estão de passagem, mesmo que uma eventualmente te cative um pouco mais ou um detalhe te seduza a pensar como aquilo funcionou bem. Falta o sentimento de um todo, como se a música contida alí fosse subordinada a uma estética pré-estipulada em que ouvir é sinônimo de gostar. Rende-se o ouvinte. E não é isso que faz funcionar.

É cretinice relegar “Little Broken Hearts” ao canto dos CDs que não precisam ser ouvidos de novo. Assim como é irresponsável tratar a facilidade encartada na estética do álbum como um ícone. O saldo disso é que Norah Jones não irá emplacar agora nenhum hit gigante, e ela merece ser aplaudida por não se contentar em repetir momentos anteriores. Teve êxito em se colocar acima da média — errou em achar que isso bastava.