NX Zero | Em Comum

NX Zero

Em Comum

[Universal Music/Arsenal; 2012]

4.5

ENCONTRE: iTunes

por Priscila Rodrigues*; 25/09/2012

No seu novo disco, “Em Comum”, o NX Zero mostra porque é a banda mais importante do rock popular na atualidade. Bem executado, descomplicado e com arranjos bem produzidos, o som é simples, não inova, não subverte, mas está longe de ser intragável. Resta saber se soa agradável por conta da produção da Universal Music (e Rick Bonadio) ou se, em movimento inverso, não foi a tarimba da gravadora que garantiu um espectro mais maduro aos garotos. Seja como for, acredito que se cantadas em figurinos mais cool ou ao menos em uma língua menos inteligível para nós, não me espantaria de ouvir as mesmas músicas em diversos iPods indies por aí.

E se as músicas são mesmo comuns, com o perdão da referência, as letras não chegam a tanto. Das 11 músicas, a maior parte desfia contratempos amorosos ou de crises juvenis, enfim, emocore: riffs simples, solos curtos e versos que, não à toa, nos transmitem uma sensação de familiaridade. “Parei de pensar, comecei a sentir ”, “Pro dia nascer feliz / tô só esperando o sol chegar”, “Andei até abrir uma porta que não dá mais pra fechar ”, você com certeza já ouviu isso ou algo muito parecido em alguma música pop de 25 anos atrás. Tudo isso, é claro, em uma versão light do rock, sem o sexo e sem as drogas.

Essa assepsia, como o restante do trabalho, não parece ser feita de maneira casual e muito menos inocente. Lembre-se que o público consumidor do NX Zero (no site oficial há uma série de produtos à venda) é composto dos mesmos adolescentes – e pré – que compram Hannah Montana e Rebeldes — ou votam no prêmio Nickelodeon. Nem seria preciso dizer que essa rebeldia precisa ser apenas aparente, e não atuante. De outra forma mamãe não deixa.

A exceção à regra das canções sentimentais do NX ZERO é a oitava faixa, “Guerra por Paz”. Com pinta de Humberto Gessinger ou Renato Russo (ambos fora de hora), depois de informar que “Estamos em guerra por paz”, Di Ferrero entoa: “Quando crescer quero ter o que eles tem na TV”, versos que já há algum tempo ultrapassaram o limite do pop para atingir o campo do clichê. Para quem é um pouco mais velho, ouvir isso faz ter vontade de tirar o walkman amarelinho da mochila da Company e sair por aí com a galera.

No fim das contas, o que Di e sua turma parecem querer dizer é: cuidado com quem você ama, mas ame; seja sincero; pense duas vezes antes de tatuar o nome dele; confie no divino; vá pela sombra e tenha juízo. A sensação que fica é a de que o rock de agora é mais ou menos o que era nos anos anteriores, sem a aids e nem um pingo de crítica social, no entanto. É o que muitos chamariam, sem estarem completamente errados, de esvaziamento e estetização da cultura jovem que será responsável por ajudar na formação de toda uma geração.

O importante a se notar é que, goste ou não desses estilos, a ambiguidade sexual dos andróginos, a rebeldia social dos punks ou a sujeira sonora dos grunges traziam algo novo em que se pensar, vislumbravam alguma mudança no status quo vigente, dentro ou fora de suas salas de jantar. Nossos populares emorockers, não chegam nem perto de qualquer dessas questões. O perigo maior, ao meu ver (e caso você se preocupe com isso), é que estejam formando uma geração inteira de pessoas que só protestará no Twitter e nunca pela saída da polícia da favela do Moinho em São Paulo. Nesse prisma, a briga vai ser séria pra mostrar em trending topics que Fresno é melhor que NX Zero, que a ex do Pe Lanza é uma cretina porque deixou o moço, entre outras questões fundamentais e tópicos de promoção e descontos.

*Priscila Rodrigues é colaboradora do Fita Bruta.