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OQuadro

OQuadro

[Coaxo do Sapo/Independente; 2012]

6.8

ENCONTRE: Site Oficial

por Yuri de Castro; 21/06/2012

Impressiona a arte gráfica composta por Anada Nahu e Izolag deste registro do grupo OQuadro. Negro, grisalho e coberto com uma manta impressa com pequenas folhas de maconha, o anjo traz consigo sua própria imagem que, infinitamente, vai se repetindo em um exercício que pode compreender, em metáfora, o tempo em que o grupo milita no cenário do hip hop baiano. Este primeiro registro oficial d’OQuadro é uma compilação da trajetória do grupo que marca 15 anos.

A impressão deixada, no entanto, tal como na arte da capa, é a da repetição – e, aqui, a coerência dessa repetição é fator decisivo para a boa recepção que o registro vem encontrando nos comentários de seus pares, das publicações regionais e também da crítica musical. Tendo a companhia de nomes como Buguinha Dub (produção), Gustavo Lenza (masterização, anteriormente na produção de “Vagarosa”, da CéU), Guilherme Arantes (em “Seja  Bem-vindo ao Meu Lar” e “Planeta Diário”), Lurdez da Luz (em “Seja Bem-vindo ao Meu Lar”) e MC Dimak (“Tá Amarrado”), o álbum conversa bem com o tempo de estrada da banda.

Vou, contudo, de encontro aos elogios que OQuadro recebe neste momento de lançamento. Se impressiona o vigor de suas apresentações ao vivo e a ótima (e clara) produção do álbum – que favorece e contribuirá com o surto do álbum Brasil adentro – , é exagerado louvar o registro por sua transparência nas inúmeras influências e transições entre gêneros presentes em si, que abrem caminhos para as letras disparadas pelos MC’s Rans, Jef e Freeza.

O exagero é detectado a partir do momento em que esta mescla — justamente o que faz fluir o talento do grupo — é a responsável por trazer uma aparência datada à obra. Como registro da soma de talentos em um mesmo trabalho e, principalmente, da importante histórica d’OQuadro, é este álbum que se deve louvar. Como transgressor, temos um álbum que está muito aquém de caminhos já trilhados pelos sobreviventes negros do Planet Hemp (ora em “Babylon By Gus” de Black Alien, ora na carreira de BNegão) e que soa como filho bastardo da produção dos anos 90 no Brasil, posto que nenhuma faixa alcança a grandeza de um b-side como “Homem Bomba”, de 1996, gravada no álbum “Rappa Mundi”, d’O Rappa.  Talvez por isso, os melhores versos do álbum (“Roteirizados, falsos gemidos em filme de sexo explícito. Os que juram infidelidade eterna e juízo; veredito esquisito”) não estejam registrados de forma explícita, se tratando de uma faixa secreta aglutinada minutos após “Música das Músicas”, que encerra o disco. Além disso, “Sapoca Uma De Cem” é fantástica – mas instrumental.

Ainda que tardia, a estreia oficial d’OQuadro traz consigo o orgulho terceiromundista em linguagem que, aqui eis o mérito, percorre os limites que o pop-rock radiofônico nacional permite, escorando-se na imersão de suas letras em obras literárias e cinematográficas peculiares, como bem registrou Daniela Galdinho em texto excitado — e como bem está registrado no encarte distribuído digitalmente com as músicas (você pode baixar em link no início dessa página). O mais importante: “OQuadro”, se não é um álbum contagiante como possibilitador de novas (re)-interpretações musicais a partir de si mesmo, é um disco que encarna muito bem a missão de levantar voz para uma Bahia que há muito não aparece nas vozes e trios elétricos que percorrem o país. Canta seu povo e, consequentemente, o país.