Otto | The Moon 1111

Otto

The Moon 1111

[Indepedente; 2012]

7.2

ENCONTRE: iTunes ou Google

por Yuri de Castro; 31/10/2012

Otto fez um gol de mão no destino. Ainda que não seja um recurso legal, para armá-lo é necessário certa dose de técnica e carisma. Se mal feito, o ato denuncia-se aos olhos atentos. Não faz um golaço, claro. Mas é um gol de mão muito mais Maradona do que palmeirense.

Otto se tornou um anti-herói do pop-rock brasileiro ao confirmar sua biografia com “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos”, lançado em 2009. Levemente canastrão, o artista em “The Moon 1111” flutua como fazem os meias modernos no futebol: quando não desequilibram o jogo com um movimento hábil, são eficientes o bastante na marcação e no contra-ataque para que seu jogo não seja refém de lampejos. Assim, livrou-se da marcação da crítica que era implacável em seus tempos de gravadora Trama.

Ao contrário de Barcos e sua palestra companhia¹, Otto não poderá ser encarnado como alguém desesperado. “Dia Claro” não é uma canção à toa na abertura de “The Moon 1111”. Ela simboliza o mesmo desejo agridoce do compositor presente em seu último disco em que parecia desesperado para externar a dor (e a lenda) que a atriz Alessandra Negrini provocou ao lhe deixar ao léu com as crianças. A sequência de “Ela Falava” e “A Noite Mais Linda do Mundo” apenas agravam esta intenção. E funciona para quem se encanta com a clássica transformação do vilão em um personagem que, mantendo sua barba e fama de mal, desperta algum tipo de simpatia.

Mas “The Moon 1111” tem momentos mais interessantes para os espectadores que, ainda admirem a eficiência tática de Danilo durante um jogo do Corinthians, talvez prefiram a porralouquisse de um Emerson Sheik, ainda que este pontue menos nas estatísticas. Com Pupillo, Fernando Catatau e Dengue, Otto está longe de fazer um “afro-progressivo” (termo que só serve pra ser besteira, caô dos grandes). Mas os latidos em “Exu Parade”, o portal místico da faixa título “The Moon 1111” (embebida na quase-cumbiera guitarra de Catatau) e, principalmente, a loucura de “DP”, fazem deste álbum um marco da consistência da carreira nunca vista antes em Otto — nem nas de seus pares egressos do mangue beat.

Se forem verdadeiros os rumores de que Preta Gil consumou-se na pós-melancolia do pernambucano, só nos resta esperar que Naldo, Carolina Dickemann e Ana Carolina também passem a ter alguma consistência artística.

¹Durante a partida Internacional x Palmeiras (assista), válida pelo Campeonato Brasileiro, o atacante argentino (!) Hernan Barcos cometeu um gol de mão que fora validado como legal pelo árbitro da partida. Momentos depois, o árbitro revogou a decisão e declarou o gol como ilegal. O clube paulista, a alguns passos de ser rebaixado para a segunda divisão, lutou no Supremo Tribunal de Justiça Desportiva pedindo impugnação do jogo, alegando que o gol de mão (!) fora denunciado por um elemento externo ao sexteto arbitral (algo não permitido). O atacante disse que há uma sacanagem dos árbitros (!).