Phoenix: Bankrupt!

Numa entrevista recente à revista “Billboard” americana, o guitarrista e tecladista do Phoenix, Laurent Brancowitz, tentou explicar a ascenção da banda ao mirrado panteão do rock mundial em poucas palavras. Em suma, ele dizia que o sucesso dos franceses com “Wolfgang Amadeus Phoenix” foi só um caso de sorte, só a roda da fortuna que girou para o lado da certo. Alegando que a banda sempre tentou seguir a mesma direção, ele resumiu metaforicamente: “É como jogar sempre o mesmo número na loteria.”

Apesar de ser uma tentativa clara de fugir de pegadinha de jornalista, a explicação tem lá seu fundo de verdade. Nos quase quinze anos de atividade, o Phoenix não mudou muito de disco para disco, sempre tendo em seu norte uma espécie rock dressado com o glamour da música eletrônica e a finésse do pop francês. Ainda que fossem os garotos com guitarras da turma – Daft Punk, AIR, Cassius, Les Rythmes Digitales – eles nunca soaram descontextualizados na cena parisiense da virada do século, ainda que tenham se tornado uma avis rara fora da França. Com os números em mãos (“United”), eles já apostaram novamente outras três vezes, primeiramente sem muita confiança, quase incertos (“Alphabetical”), em seguida, relaxados e descontraídos (“It’s Never Bee Like That”) e, por fim, com um grande e sarcástico sorriso de vencedor no rosto (“Wolfgang Amadeus Phoenix”). E quando eles menos esperavam, jackpot!

“Bankrupt”, o recém-lançado quinto álbum do grupo, não propoe uma nova combinação de números – o que acaba sendo uma faca de dois gumes depois que a sua conta bancária ganhou mais alguns zeros à direita. Tão difícil quanto um raio cair no mesmo lugar, é qualquer loteria sortear os mesmo números duas vezes, e com Phoenix não é diferente. Se a excelência e o sucesso haviam batido à porta na jogada anterior, ˜Bankrupt!”, como o próprio nome deixa explícito, é um disco de reconhecimento de uma derrota inevitável. Não é um trabalho ruim – longe disso – mas é um álbum menor, mais melancólico e, ainda sim, essencialmente Phoenix. Essa vibe fica clara já no single e faixa de abertura, “Entertainment”. Por um breve momento é como se a sorte tivesse batido à porta mais uma vez: todos os elementos que fizeram de “Wolfgang Amadeus Phoenix” o estrondo que foi estão ali: a parede de teclados, sintetizadores e guitarras, a bateria eficiente sem muita firula, o vocal doce e irônico de Thomas Mars. Quando a faixa vai ganhando momentum e você já espera um refrão chiclete como “1901” ou “Litzomania”, a bateria simplesmente para, enquanto Mars parece olhar desolado uma multidão dessas de festivais de música nos quais eles acabaram sendo atração principal em 2013. “Entretenimento, mostre a eles o que você fez comigo”, canta, palavra à palavra, antes de emendar melancolicamente dois versos depois a máxima que define o disco: “Eu prefiro ficar sozinho”.

Por mais brilhante e bonita que seja, “Entertainment” não é a música que vai fazer o Phoenix dar mais alguns passos na cadeia alimentar da música. É, na verdade, uma canção sobre estar lá e querer voltar algumas casas. “O que eu um dia recusei ser / é tudo que eles querem por perto”, diz outro trecho do refrão. O topo, diz o ditado, costuma ser um lugar meio solitário mesmo. E o resto de “Bankrupt” abre, segue e fecha na mesma nota baixa. Ainda menos efusiva (mas com um refrão de dois versos sensacional), “SOS In Bel-Air” continua o tema da solidão dos vencedores, brincando de imaginar um grupo de apoio para deprimidos no meio de Berverly Hills. “Tring To Be Cool” diminui ainda mais o ritmo e joga o Phoenix de volta às crises de “If I Ever Feel Better”, agora sem enxergar um brilho muito claro no fim do túnel. A inevitável comparação com “Wolfgang Amadeus Phoenix” é acentuada pela faixa-título, um tema quase todo instrumental nos moldes de “Love Like A Sunset”, que dividia aquele disco ao meio. O que sobra, assim, são canções que justificam a declaração de Laurent que o Phoenix nunca mudou, ora na média de excelência da banda – “Drakkar Noir” (que diz “Pule fora antes que você tropece”), “Don’t” e “Oblique City” – ora bem abaixo dela – “The Real Thing”, “Chloroform” e “Bourgeois”.

Como bons artistas franceses que são, é bem provável que o Phoenix tenha feito “Bankrupt!” do jeito que é de propósito, – e nese ponto, vale lembrar a curiosidade da banda ter gravado o disco na mesma mesa de som usada em “Thriller” de Michael Jackson e ter trabalhado com o título de “Alternative Thriller” até o último momento – como se eles quisessem expressar alguma verdade sobre o showbiz ou algo do tipo. Se for assim, o que para muitos poderia ser uma atitude tola, funciona na lógica particular do Phoenix. Derrotados e mesmo assim ocasionalmente brilhantes.