Sandy | Princípios, Meios e Fins

Sandy

Princípios, Meios e Fins

[Universal; 2012]

4.5

ENCONTRE: iTunes

por César Márcio; 01/11/2012

Sandy Leah (que – por motivos de: eu cresci nos anos 90 – será chamada nesta resenha apenas de Sandy) sonha ser Regina Spektor. A cantora russa conseguiu construir uma carreira relativamente bem sucedida se equilibrando entre o que é naturalmente pop e o que é oficialmente sofisticado, num tom que aparenta ser o idealizado para a (até o momento) mal sucedida carreira solo da brasileira. Existem outras cantoras que conseguem se manter entre esses dois mundos, como Norah Jones (apesar de já ter declarado ser possível sentir prazer anal, Sandy não tem quase nada da figura latentemente sexual de Jones) ou Florence Welch (felizmente, Sandy jamais conseguiria atingir esse nível de bizarrice). Mas em Spektor, a ex-e Junior encontra sua meta mais plausível, uma inspiração de tom de voz e interesses musicais parecidos. E se cresceu fazendo participações nos programas da Xuxa, deve ter aprendido o mandamento maior da Rainha dos Baixinhos: “Nunca, nunca desista dos seus sonhos!”. No seu novo EP, “Princípios, Meios e Fins”, Sandy é Regina Spektor.

Porém, ser Regina Spektor não é exatamente benéfico para essa nova Sandy em construção. E isso é porque há um pequeno ruído nessa transição de pop adolescente para pop adulto que deve ser creditado a uma indecisão da própria artista. A voz e a poesia, embora alegadamente adultas (existe uma faixa aqui chamada “Aquela dos 30”. Mais óbvio, impossível.), parecem inadequadas (até fora da métrica, às vezes) nesta nova roupagem. Talvez porque a cantora não se sinta à vontade largando de vez um público infanto-juvenil que a acompanhou durante muitos anos.

Sandy, todavia, parece entender que essa faixa etária já não anda mais interessada na sua imagem de mocinha romântica. Por isso força frases que a conectem com a audiência que cresceu com ela (“Tenho sonhos adolescentes/ Mas as costas doem/ Sou jovem pra ser velha/ E velha pra ser jovem”), usa um referencial mais consolidado (há um sujeirinha de Beatles em “Segredo”) e é ajudada por uma produção menos radiofônica (a bateria mais alta que se ouve no EP dificilmente teria lugar na fase imortal/não-morre-no-final). Mas Sandy não é nenhum furacão (ah vá) e todas as suas escolhas se acomodam num modorrento meio termo.

É curioso que, mirando Regina Spektor (“Escolho Você” é quase uma declaração de amor), Sandy possa acertar em artistas brasileiros que se escondem nesse meio de caminho, como Tulipa Ruiz, Jeneci ou Silva. Como nenhum deles faz mais do que Sandy neste EP, não é muito improvável que o público que os recepciona dê guarida a esta nova adulta. Só não é provável que esse mesmo público, acostumado mais com um ideal de sofisticação do que com a sofisticação real, esqueça o passado pop caipira da cantora.

Sandy não pode esquecer que o mercado da música existe independentemente da sua presença. Sendo assim, seu amadurecimento não deve se resumir a uma simples mudança de público alvo. Estar mais velha só diz respeito a ela e continuar repetindo isso não vai torná-la uma artista mais interessante (alô, Mallu Magalhães). Para quebrar sua imagem, de adolescente e de artista amestrada, Sandy vai precisar de muito mais do que 18 minutos.