Single Parents | Unrest

Single Parents

Unrest

[Balaclava Records/Popfuzz Records; 2012]

7.6

ENCONTRE: Trama

por Livio Vilela; 23/03/2012

A princípio, o Single Parents parecia uma banda fácil de se descartar em 2010. Foi um ano especialmente agitado, com muita atenção dividida (ao contrário do foco quase idiota no Criolo e Emicida em 2011) e uma safra de discos (Tulipa, Jeneci, Do Amor, Holger, Garotas Suecas, Apanhador Só, Mombojó, Cérebro Eletrônico, Thiago Pethit, Emicida, Nina Becker, Karina Buhr, Guizado…) realmente especial. Assim, foi quase prático chegar no EP de estreia do trio paulistano e simplesmente aceitar ele e a banda como apenas mais uma peça da linhagem nefasta de grupos sub-Strokes-indie-since-2005 que a juventude brasileira ainda insiste em criar. Como eu disse, era algo conveniente, não correto, como bem prova “Unrest”.

Lembro que o momento em que a “luz acendeu” sobre o Single Parents foi quando eu tentava fechar minha lista prévia de melhores músicas brasileiras de 2010 (sou desses) para votação do Bloody Pop e acabei esbarrando em “Last Conversation”, destaque único de “Could You Explain?”. É uma faixa simples e direta, quase adolescente, características belamente ressaltadas pela produção rudimentar daquele EP. A letra é sobre o fim de um relacionamento como qualquer outro (sempre emo), mas com um namedropping inusitato – “I pretend I’m listening to Sonic Youth” – o que de certa forma resume as intenções da banda e explica a diferença gritante entre entre aquelas 4 canções e as 13 que compõem “Unrest”.

O Sonic Youth citado em “Last Conversation” funciona mais como um index de referências buscadas pela banda do que de fato uma influência direta (eles são bem mais melodiosos que a turma de NY). “Unrest” é um álbum de indie rock como gênero, forjado por guitarras ruidosas (Mascis, Thurston, Shields, estão todos aqui) e impulsos ora de raiva, ora de melancolia. E mesmo que possa ser encarado assim, não soa como parte do revival noventista em curso ao redor do globo – é até mais “ilhado” do que precisava.

As faixas de abertura – “Beginning Of Our Rage” e “Stop Waiting (For Me Now)” – funcionam como um guia prático para as outras 11 e apresentam a banda em sua forma mais polida. A primeira começa com guitarras pós-punk cheias de mistério que vão ficando mais diretas à medida que a música se aproxima do refrão. Surgem, então, violinos, a bateria e a banda entra numa espécie de catarse que parecia impensável para eles até pouco tempo. “Stop Waiting (For Me Now)” é puro Ride: ondas de guitarra quebrando na costa e nostalgia em cada palavra saída da boca de Fernando Dotta, tudo executado com delicadeza e peito aberto.

Há certo sentimento de sinceridade como valor maior em “Unrest” que acaba criando uma ponte interessante entre o Single Parents e o os finados Superguidis. Ambas as bandas traduzem quase da mesma maneira uma espécie de angústia de jovem fodido, mal pago e levemente iludido. Esse refém do mercado de trabalho e da cultura pop com uma espécie de síndrome de Estolcomo que – não sei vocês, mas – eu realmente me identifico. Talvez apenas uma coincidência, a namorada de um dos Guidis, Liége Milk, participa de “The Only Memory”, uma balada sem muita cor relegada ao final do disco.

“Unrest”, no fim das contas, funciona como uma carta de boas intenções. Ainda não é exatamente tudo que eles queriam que fosse (vence pelo esforco, e não pela inquietude do título), mas é bem mais do que se esperava deles.