Syd Arthur | On An On

Syd Arthur

On an On

[Independente; 2012]

6.9

ENCONTRE: Site Oficial

por César Márcio; 20/08/2012

Atirar para todos os lados nem sempre é a atitude desesperada que parece ser. Existe a possibilidade de errar todos os alvos, é claro, mas com maiores opções, existe também uma possibilidade ainda maior de não sair do jogo zerado. Essa é a lógica que rege a interessante estreia da banda inglesa Syd Arhur, nascida em Kent, terra do subgênero progressivo conhecido como Canterbury Scene. Eles não deixam de pagar tributo aos cânones da cidade, mas não se envergonham de entoar melodias similares ao soul branco (pálido) de um Maroon 5, por exemplo. E, porque não, homenagear a divindade pop pós-2000, o Radiohead, alguns segundos depois. É esse tipo de barbárie que se ouve em “On An On”, primeiro LP do quarteto, um álbum pronto, enxutinho, tão arrumadinho que por um breve momento o ouvinte pode até achar que encontrou uma nova banda realmente original.

Para clarear: não encontrou. Essas canções, de duração relativamente curta para o que se espera de uma banda conterrânea de e influenciada por Soft Machine, Caravan e Egg, transitam no limite do pastiche e da verdadeira empolgação juvenil. Coisas como “Ode to Summer” (e aqui você vai entender que existe mesmo a possibilidade de colocar Canterbury Scene e Maroon 5 numa mesma resenha) são tão ridiculamente divertidas e pegajosas que tornam nebulosas quaisquer impressões sobre intenção.

Em momentos espalhados pelo disco, existe uma preocupação com pompa, uma pretensão de grandiosidade que contrasta com essa alegria tola que aparece, também de vez em quando, principalmente nos refrões. Pegue, por exemplo, “Dorothy”, pressuposta como uma versão de “Pyramid Song” se entregando a um refrão que encaixaria melhor em “Sunday Morning” e, mais importante, fazendo esse movimento com extrema naturalidade, num caso claro de uma cria do distinto dial inglês.

Numa vibe “Canterbury, Eu Amo, Eu Cuido”, o disco se encerra como um típico artesanato local. “Paradise Lost” vai e volta para dizer que a banda é orgulhosamente de Kent mas não diz nada além disso. De certa maneira, uma tolice caprichada como “Ode To Summer” deixa melhor impressão sobre a banda porque aponta um caminho torto, mas um caminho deles. Aqui, eles quase se aproximam (quase, porque não tem a mesma habilidade e cultura, nem o mesmo dom para soberba e aborrecimento) do Mars Volta, banda com que o Syd Arthur mantém parentesco distante.

E entre tudo isso há uma banda com potencial, ouvida em “Truth Seeker”, por exemplo, que não é sutil, nem tola, nem pomposa, nem grandiosa. Atirando para todos os lados, acertaram em cheio nesse blockbuster de cinema americano – dos bons, é claro – levemente embrutecido, porém divertido como vocação. Nesse groovezinho malemolente reside o pouco de certeza que o ouvinte pode ter sobre este frankenstein chamado Syd Arthur, baseado nas escolhas estéticas de “On An On”. No futuro, essa banda pode ser qualquer coisa: qualquer coisa muito boa ou qualquer coisa muito, muito ruim.