No combalido e desnecessário tópico da originalidade na música pop, já existe um lugarzinho todo especial para o Tame Impala. Mas para Kevin Parker, especialmente, esse assunto nunca foi um problema real. Para a ascensão meticulosamente arquitetada de sua banda funcionar da maneira brilhante que funciona atualmente, foi de grande importância que o Tame Impala tenha sido visto, inicialmente, como um revivalista do psicodelismo dos anos 60/70.

A percepção comum de evolução de um incansável jovem historicista para um incansável jovem perfeccionista talvez explique porque seu mais novo álbum, tentadoramente intitulado “Currents”, tenha sido recebido com tanto entusiasmo. É como se o ouvinte fosse obrigado a presentear um rapaz que, reconheça, é no mínimo esforçado. “Ouça isto! Sintetizadores! Phase! Mais sintetizadores! Mais phase! Eu sou um novo homem! Eu sou o novo!”, diz Parker, a cada sobrecarregado segundo de “Currents”. Isso é dito de maneira prática e literal, para que não sobre nenhuma dúvida. A temática central é a de mundo em constante movimento, de mudanças inevitáveis e, mesmo com eventuais disfarces em associações canhestras com relacionamentos amorosos (veja as letras problemáticas de “Cause I’m Man” e “Past Life”), não resta dúvida de que este tema está ligado à convicção do artista de que, musicalmente, este disco representa uma grande mudança de procedimentos.

Alguém pode até dizer que o Tame Impala não é autêntico, mas Parker não está interessado numa visão qualquer de autenticidade. Assim como é explicado didaticamente em “New Person, Same Old Mistakes”, ele tem sua própria e suficiente visão de autenticidade. Fora da embalagem, “Currents” funciona como um eficiente radar da música pop dos anos 80. Mas isso vem sendo dito sobre milhares de discos desde o fim dos anos 90, a única década depois dos anos 80 em que não se ouviu música dos anos 80. Vemos a mesma competência nos últimos discos do Phoenix e do Toro Y Moi, para usar exemplos discrepantes que não tiveram recepção tão fervorosa. Provavelmente, o pacote que Parker oferece de presente parece ser mais interessante no momento, e o template “synth-pop-80” de “Currents” é seu laço vermelho.

Todo esse carisma traz à lembrança o personagem vivido por Adam Driver em “While We’re Young”, de Noah Baumbach. Driver é o jovem cineasta Jamie, que, em certo ponto do filme, é descrito como alguém que “viu uma pessoa sincera uma vez e vem imitando-a desde então”. Jamie, mesmo acusado de não ser autêntico, é extremamente bem sucedido ao lançar seu filme. O casal protagonista vê numa revista uma entrevista de Jamie e a esposa (Naomi Watts) chega à conclusão: “O demônio está solto”. O marido (Ben Stiller), resignado, diz: “Ele não é o demônio… ele só é jovem”. O sucesso do filme de Jamie e o sucesso do Tame Impala, inevitáveis, são produtos da nossa era. A certeza de Kevin, tão enfático em letra e música, é que é a grande surpresa em “Currents”.