The Killers | Battle Born

The Killers

Battle Born

[Island; 2012]

3.0

ENCONTRE: Site Oficial

por Cesar Márcio; 22/10/2012

Brandon Flowers é um personagem interessante. Embora todo seu entorno seja inevitavelmente risível, Flowers mantém uma curiosa postura séria, um jeito de cantar urgente, um olhar assustado, de modo que aparenta viver até fora do mundo a qual sua música pertence. É compreensível que a sua visão de mundo seja de certa forma pessimista, porque é religioso e porque a religião que o cantor escolheu acreditar só parece hilariante para quem está de fora. Mas sua música, ao contrário, nasceu com pretensão de encher estádios, desde o início. “Battle Born”, o novo álbum da banda que lidera, ilustra mais uma tentativa de manter o equilíbrio entre essa imagem de passionalidade e esse som de entretenimento.

E o Killers, é claro, cai, como vem caindo desde seu primeiro disco, num buraco negro de obsolescência que ainda se traduz numa popularidade razoável (ainda assim, maior que a todos os seus pares de “novo rock” circa 2004). É possível creditar essa maior longevidade a esse curioso personagem que toma todas as ações. Cante a linha mais ridícula que for, sobre a mais rídicula vestimenta de Bon Jovi (“Runaways”), Bruce Springsteen (“From Here On Out”) ou Bono Vox (“Flesh and Bone”), Flowers vai defendê-la da maneira mais intensa possível. Essa postura leva a duas consequências: gargalhadas incontroláveis (a maior parte da espécie humana) ou choro soluçante (a grande base de fãs que o Killers conseguiu manter nesses quase 10 anos de carreira).

Façam a chacota que fizerem, o vocalista estará lá, impávido, consciente de uma missão que só ele conhece e nunca ninguém se importará em saber qual é. Enquanto isso, o Killers vai se transformando numa daquelas bandas de igreja evangélica que tocam versões grunges de “Para Nossa Alegria” como se não houvesse amanhã. Entre essas versões (a melhor delas é a faixa-título, contudo, sem grande inspiração), a banda arrisca algumas baladas, obviamente oitentistas, num terreno até então pouco explorado.

Essas distintas lembranças do euro-romantic que pontuam “Battle Born” entre rocks de arena mais datados que o “Pula Pirata” indicam que o incansável Flowers está, finalmente, cansando. Em peças que também sugerem uma boa gargalhada (no discurso motivador de “Be Still”, ele é capaz de dizer coisas como “We’re in the belly of the beast” com a maior seriedade do mundo), o Killers se vê às voltas com parte dos anos 80 que ainda não tiveram paciência de plagiar (Alphaville – o vocalista tem tom de voz bastante similar ao de Brandon Flowers -, Ultravox, etc.). E como, a despeito da intensidade de seu líder, estamos falando de um grupo de músicos que ainda não superou a linha da mediocridade, é de se imaginar que nenhum desses números forneça o fôlego que Flowers está precisando.

Estagnado do jeito que está, o maior atrativo do Killers continua sendo a personalidade de seu homem de frente, esse cara que é mórmon, pai, marido e vocalista de uma banda de rock que nunca ouviu um disco lançado antes de 79 e depois de 89. Só que, desta vez, mesmo sua performance incandescente não parece aquecer uma banda tépida, que continua fazendo música incipiente, carente da profundidade que a voz de Flowers, às vezes, consegue atingir (“When You Were Young” é um bom exemplo). Ancorar-se somente num personagem interessante não parece uma boa estratégia para uma banda com as astronômicas pretensões (comerciais – e nesse caso, não poderiam ser outras) que o Killers possui.