The Strokes: Comedown Machine

Um termo bem apropriado para o Strokes, à época de seu definitivo debut “Is This It”, poderia ser iluminado. Não exatamente por brilhantismo, mas por sua aplicação na resenha esportiva. O jogador iluminado não é o jogador com a maior qualidade técnica (brilhante), é o jogador que decide, o coadjuvante objetivo. E, frequentemente, a carreira desse tipo de jogador segue de maneira irregular: rodando de clube em clube, irritando a torcida da maior parte deles, o iluminado vive da sua fama de finalizador, fazendo golzinhos aqui e ali, gerando, também, esparsa simpatia de alguns torcedores que não se importam tanto com o espetáculo. Alguma semelhança com a carreira dos Strokes?

“Comedown Machine”, o quinto disco da banda nova-iorquina, traz algumas confirmações. Temos aqui dois golaços e o primeiro é o single retardado “One Way Trigger”. Da gritaria gerada na divulgação, das semelhanças com extremos do planeta como Pará, Noruega e México e, principalmente, da fuga de uma zona de conforto da qual o quinteto tem extrema dificuldade para abandonar, a terceira faixa puxa forças para levar os Strokes de volta aos momentos de diversão sem culpa que ainda conseguia proporcionar em “Room On Fire”. Diante do esforço, dá até para relevar o quase plágio de “Take On Me”.

O segundo gol vem aos 45 minutos do segundo tempo quando Casablancas surpreende ao largar seus esquemáticos e previsíveis maneirismos no falso blues-pré-guerra de “Call It Fate Call It Karma”. Fica claro ali o protagonismo de Casablancas nessa estrutura meio impenetrável que é o “som dos Strokes”. Em faixas em que se porta de maneira padrão-rock-2000, a banda não tem outra saída a não ser acompanhá-lo e, sendo assim, é missão de Casablancas buscar alternativas para uma música já envelhecida (acreditem, “Is This It” está prestes a completar 12 anos de lançamento). No caso da última faixa, porém, há de se destacar certa semelhança estética com o Litlte Joy do baterista Fabrizio Moretti.

Infelizmente, esse não é a tônica de “Comedown Machine”. Na sua maior parte, temos Strokes sendo uma banda que imita Strokes (“All The Time”, “50 50”) rivalizando com dispensável Strokes synth-pop da fase “Angles” (“80’s Comedown Machine”, “Happy Ending”), num papel pouco condizente com a outrora salvação do rock. Exceto pela voz bastante característica de Julian Casablancas, é dificil saber se o ouvinte está no meio de um disco dos Strokes ou do Phoenix (ou Two Door Cinema Club, ou Hot Chip, etc…).

Como pode ser facilmente observado em qualquer comentário sobre a banda, a força da estreia persiste de maneira prejudicial, porque espera-se sempre dos Strokes mais do que eles podem oferecer (incluindo aí seu potencial comercial). O que reforça ainda mais a analogia com o “iluminado” do futebol: exigir jogadas brilhantes do quinteto a essa altura pode ser exigir demais. Por agora, “Comedown Machine” é o melhor que eles podem fazer.