Vivendo Do Ócio | O Pensamento É Um Imã

Vivendo Do Ócio

O Pensamento É Um Imã

[Deck/Vigilante; 2012]

6.7

ENCONTRE: Facebook

por Livio Vilela; 08/02/2012

Talvez seja reflexo de uma tendência mundial, talvez seja sintoma de uma real da mudança na maneira como o público enxerga a música, antes tão dividida em gêneros, subgêneros e cenas. Fato é que o Brasil de hoje não é exatamente o melhor lugar no mundo para ser ter uma banda de rock, digamos, “convencional”, que é exatamente a tag que cabe no quarteto baiano Vivendo Do Ócio. Com uma sólida base de fãs que os põe um passo à frente das outras bandas de rock alternativas em atividade, mas ainda longe o suficiente do pequeno e popularesco mainstream nacional, Jajá Cardoso, Luca Bori, Davide Bori e Dieguito Reis chegam ao segundo disco com a difícil tarefa de manter o rock “convencional” brasileiro rolando.

Filho desse clima, “O Pensamento É Um Imã” é mais um álbum de defesa do que de ataque, feito nem para construir, nem destruir nada. Não me entenda mal, é um bom disco, bem composto, bem gravado, bem executado. Só que, no fundo, é apenas correto, de uma maneira que dá para ter uma dose de certeza que não vai desapontar quem realmente espera um álbum do Vivendo Do Ócio em 2012, nem encantar a massa de fãs de Restart que já começa a se aproximar dos 20 anos de idade.

Comparado à estreia da banda, “Nem Sempre Tão Normal”, “O Pensamento É Um Imã” soa maduro na maneira mais convencional possível. Se boa parte da sonoridade pós-Strokes/Arctic Monkeys temperado com um pouco QOTSA (por que “Josh Homme é o cara”, diriam os quem faz, quem elogia e quem ouve rock “convencional” no Brasil hoje) permanece, o Vivendo Do Ócio fez um disco cheio dos truques de “discos maduros”. Tem a quase balada sobre amadurecimento (“Nostalgia”), a tentativa de “honrar nossas raízes” (“O Mais Clichê”, um título sintomático), os “experimentos com música eletrônica” (“Dois Mundos”, que parece Skank e acaba sendo a melhor faixa do álbum) e aquela faixa que todo mundo falaria “nossa, essa merecia tocar em rádio se não existisse jabá mimimi” (“Radioatividade”, a melhor melodia e pior letra do disco).

O problema aqui talvez seja algo que exista num plano diferente de “O Pensamento É Um Imã” e esteja mais ligado ao tipo de expectativa que se tem por um álbum que a própria banda encara como sendo um trabalho decisivo para o rock brasileiro. Nesse sentido, o segundo do Vivendo Do Ócio falha até mais do que os discos sofisticados e completamente alheios ao estado real das coisas do ano passado, como foram as últimas investidas de Vanguart e Los Porongas. Esse é um álbum que soa destinado a manter o pouco que se tem, apenas, o que pode ser encarado como falta de coragem. Fica claro que a banda não está disposta a voltar à Bahia, mas fica menos claro ainda entender aonde exatamente eles pretendem chegar com tão pouca audácia.

Se o pensamento é um imã como diz o título do álbum, é de se esperar que as boas intenções do Vivendo Do Ócio contribuam, um dia, com o desenvolvimento do tal rock “convencional” como uma estética devidamente apreciada dentro do cenário brasileiro. Mas, no momento, eu só esperava que eles me dessem um pouco mais.