Wilco: The Whole Love

Um amor inteiro. O clichê apaixonado que encarna o título do novo álbum do Wilco pode passar desapercebido. Comum falar do agente paixão e suas travessuras, mas falar de um amor inteiro também é queimar um jardim de rosas para plantar outras flores no lugar. Nada demais para um disco do Wilco.

O tato não é leve e sublime como foi em Sky Blue Sky, ou imerso em psicoativos sentimentais como em Yankee Hotel FoxtrotThe Whole Love não tem uma caricatura definida, fragmenta a discografia da banda nas suas referências internas. Começa com ruídos da ótima “Art of Almost”, de longe a mais barulhenta e intensa do álbum, obra de sete minutos que se sustenta por um arranjo de cordas alto com um riff bem elétrico de guitarra ao fundo. No que a música chega ao fim, o riff explode na maior catarse guitarrística do álbum – assim como A Ghost Is Born fez com “At Least That’s What You Said”. A travessura inicial dá a esperança de que o álbum tenha arritmias felizes como esta, mas isso acaba não acontecendo.

A alegre “I Might” vem depois e põe a confusão mental de lado para tentar organizar as coisas. Escolhida como o primeiro single — saiu em compacto antes do lançamento oficial de Whole Love — é a mais sing-along do conjunto de canções, com ‘tchururururu’ e tudo. Xilofones alegram e despistam a nuvem deixada pela primeira música. A leveza continua na sequência até “Born Alone”, num intervalo que inclui um momento monótono do disco com “Sunloathe”, “Dawned on Me” e “Black Moon”, período em que alguma coisa fica perdida entre as canções, um gosto de tocar diferente. Se não dá pra definir um estilo, a banda devia ao menos arriscar suas idéias em climas menos pálidos. Nessa Jeff Tweedy perdeu a mão.

“Born Alone” é menos tímida e tenta engatar o ritmo: tanto na questão de batidas por minuto, quanto no entusiasmo lírico. “Sadness is my luxury” entra no caderninho de frases geniais de Jeff Tweedy (vocalista e frontman da banda). Na música ele também diz “I was born to die alone”, e o faz sem aludir a um estado depressão. Queima e planta de novo no lugar.

Na metade final, “Capitol City”, “Rising Red Lung” e “Whole Love” apresentam melodias amáveis e violões lentos, com acordes jogados ao léu para gastar o tempo. Como aconteceu no início, parecem músicas jogadas. Chamariam atenção como lado B de um single, mas são coadjuvantes no disco.

O capricho ao terminar é a maior lição de The Whole Love. “One Sunday Morning (Song for Jane Smiley’s Boyfriend)” é uma viagem de ônibus para um subúrbio arborizado num dia bonito. É a melhor canção já feita para pegar condução no final de semana, encostar a cabeça na janela e começar a sonhar. O acorde repetido diversas vezes no violão parece uma citação a “Anunciação” (Alceu Valença), mas sem a parte febril. As notas são sinos de uma tranquilidade, guiam os efeitos ao fundo da música e acompanham o piano sem pressa.

Terminar assim dá a sensação que The Whole Love é melhor do que realmente é. O oitavo trabalho de estúdio do Wilco flui bem com um conjunto de belíssimas canções, mas esbarra em exageros. O genial ficou descuidado e perdeu a vez.