Yeah Yeah Yeahs: Mosquito

De todas as bandas da safra 2000-04, o Yeah Yeah Yeahs era provavelmente a banda menos propensas a sobreviver e, mais importante, triunfar uma década depois. O trio parecia mais um projeto bem maquinado do que uma banda honesta, liderado uma vocalista com pose de quem sai em carreira solo. Mas foi o caminho que a história tomou: os Strokes implodiram e continuam completamente denorteados; o Interpol é apenas uma sombra distante da banda que fez “Turn On The Bright Lights”; os Libertines queimaram a largada; o Franz Ferdinand se acomodou no próprio status e virou uma espécie de Teenage Fanclub da geração; o Kings Of Leon pirou com a hiperexposição; o The Killers se conformou em ser o Bon Jovi sem Richie Sambora; e outros tantos ficaram pelo caminho (Bloc Party, Kaiser Chiefs, Futureheads, Vines, Hives etc). Enquanto isso, o Yeah Yeahs lançou três bons discos, fez algumas peças indispensáveis do cancioneiro da década (“Maps”, “Y Control”, “Cheated Hearts”, “Zero”) e goza hoje de um respeito entre seus pares que poucos da geração ainda tem. O público que viveu o hype se mantém intacto e tanto eles quanto os que pegaram o bonde no meio do caminho esperaram o novo “Mosquito” com a mesma ansiedade de qualquer outro lançamento da banda. Karen O, Nick Zimmer e Brian Chase, para todos os efeitos, estão de parabéns.

O que nos leva a um certo constrangimento em perceber que, mesmo com tudo para ser o melhor álbum do Yeah Yeah Yeahs, “Mosquito” é o pior dos quatro já gravados pela banda. Parece que tudo que a banda tinha a favor – 2 anos inteiros para gravar, um orçamento farto, dois dos melhores produtores em atividade (Dave Sitek e Nick Launay), um bom relacionamento entre os integrantes, uma familiaridade com estúdio onde gravaram – acabou conspirando contra e sugando aquela energia vital inigualável que parecia manter o foco da banda.

“Mosquito” vem sendo vendido como a volta do Yeah Yeah Yeah ao rock, à sujeira e à esquisitice, frente à polidez e à popice de “It’s Blitz!”, o que é em parte verdade. Os sinterizadores e as grandes atmosferas daquele álbum não foram embora, mas aqui vemos um Nick Zimmer mais aparecido, uma sonoridade mais orgânica e uma variação maior de estilos. O problema é que se o Yeah Yeah Yeahs nunca foi do tipo de banda avessa às experimentações, em “Mosquito” isso acaba jogando contra.

O single “Sacrilege” é uma espécie de ode a “Gimme Shelter” dos Rolling Stones, com a guitarra de Nick Zimmer zigzagueando em momentos que costumava andar em linha reta, Karen O se auto-flagelando a cada frase e um coro gospel alinhavando tudo no final. Isolada, é uma das melhores canções da banda. Dentro do álbum, no entanto, é um filho-único do brilhantismo e da boa execução, que é seguido, entre outras, por uma canção atmosférica e silenciosa sobre amores de lotação (“Subway”), um rockão desacelerado com alguma influência tribal e anti-capitalista (“Mosquito”), um punk de botique sobre aliens perfeito para animação da Disney (“Area 52”) ou um loop de sintetizador que nunca explode, nem chega a criar tensão (“These Paths”). Depois que o álbum começa, é tudo incrongruência.

O pior de “Mosquito”, no entanto, não está nas canções em si. Está no ponto em que você percebe que as melhores delas são derivações dos modelos que o Yeah Yeah Yeahs já havia tentado antes, como o rock meio gótico, meio dançante sobre amores obssessivos que é “Slave” e as duas baladas slowburners feitas especialmente para Karen O brilhar (“Despair” e “Wedding Song”, que fecham o disco). “Sacrilege” e “Buried Alive” (produzida por James Murphy e soando como um encontro entre Blondie, Run DMC e Brian Eno) são exceções, mas o resto dos bons momentos do álbum nos faz imaginar que “Mosquito” poderia bem ser um “It’s Blitz: o retorno” e que provavelmente seria melhor por isso.

O que é mais estranho em “Mosquito” é o fato do Yeah Yeah Yeahs ter feito ele só agora, justo no pico de popularidade e credibilidade da banda. Tivesse saído no lugar de “Show Your Bones”, por exemplo, seria só tachado de “difícil segundo disco”, um deslize no caminho. Em pleno 2013, ele funciona como uma bomba anti-histórica que faz tudo – a década passada, a banda, 2013 – fazer menos sentido.