Michel Teló | Humilde Residência

Michel Teló

Humilde Residência

[Som Livre; 2011]

7

ENCONTRE: Site oficial

por Livio Vilela; 21/01/2012

Foi realmente estranho ver o Brasil entrar nesse frenesi via timeline por causa de “Ai Se Eu Te Pego”. Não porque eu tenha acompanhado mais ou menos que de perto os últimos anos de Michel Teló (eu trabalhava até 6 meses atrás na gravadora que lançou o cantor como artista solo), mas principalmente por ver como as pessoas falharam miseravelmente em entender o que acontece no Brasil há mais de 5 anos. A “explosão do sertanejo” não foi exatamente uma explosão, e sim um perfeito desenvolvimento de um negócio e de uma linguagem que consegue dialogar, de fato, com o milhões de brasileiros, enquanto o rock alternativo e a MPB mal conseguiram fisgar a massa órfã de Los Hermanos.

Mais do que sertanejo, Michel trabalha desde seu primeiro single solo (“Ei, Psiu, Beijo Me Liga”, de 2009) como um operário do pop brasileiro. Os melhores momentos do catarinense paranaense sempre foram cheios de uma animação descompromissada, daquela sensação efusiva que não há melhor palavra para descrever do que “curtição”. Tudo isso sem despertar a vontade de acertá-lo com um pedaço de pau como acontece 90% do mainstream brasileiro. É a mesma linha tênue na qual se equilibram o Exaltasamba (cujo atual vocalista, aliás, é compositor da melhor música de Teló, “Fugidinha”) e a Ivete quando não está tendo delírios de grandeza ou ligada no piloto automático.

“Humilde Residência” é um desses momentos puramente pop de Michael. Sobre uma base que é um meio termo entre sertanejo, forró e pagode, Teló canta um desses sofrimentos de classe média que cabem numa hashtag, no caso, o dinheiro que acaba antes do fim do mês e impede de levar para o motel a tal garota “que sempre me deu uma moral”, mas que “agora tá mudada, se formou na faculdade”. Numa comparação simples que talvez esclareça o pareamento com Ivete, “Humilde Residência” é a “Beleza Rara” de Michel: pode até ser eclipsada por um “Segure O Tchan” (“Ai Se eu Te Pego”), mas, daqui a 10 anos, vai ser bem mais afetivo do que irônico ver a galera saber a letra de cor nas festinhas temáticas que certamente virão.