Por M. Vinhal e Livio Vilela

A guitarra de Nile Rodgers em “Mandou Bem” deixa a dúvida: o Jota Quest se desacomodou no troninho de banda grande ou a associação com produtores como Nile e Adriano Cintra é só business como sempre? A sensação já amplamente aceita (até pelo público) que o Jota Quest não fazia algo digno nem de ser notado já havia mais de década ainda persiste, mas o que está implícito em todo esse name dropping é simplesmente difícil de ser ignorado. A presença de Rodgers bem no ano que o guitarrista vence um câncer e é transformado quase num semideus da música é uma grande jogada, a princípio de marketing, mas idealmente também musical.

O riff de Rodgers, irresistível como de costume, é só mais um dos elementos claríssimos do quanto o Jota Quest investiu na produção de “Mandou Bem”, assim como o Daft Punk fez em “Random Access Memories”. Quem tem cacife, paga e manda trazer. E quando chega o refrão, “Mandou Bem” é um primor de produção, tudo soa incrivelmente bem arranjado, pop da melhor qualidade. Menos quando Flausino resolve cantar.

É ali, infelizmente, que a a canção tem mostra seu principal ponto fraco. A culpa, na verdade, não é exatamente de Flausino e seus floreios vocais – desse “problema” nós já temos conhecimento prévio e bater no Jota Quest por causa do seu vocalista é insensatez, o melhor seria nem ouvir. O problema de “Mandou Bem”, como a carreira do Jota Quest quase toda, reside muito mais na pobreza da letra e de como ela se junta tão inesperadamente mal à melodia. Enquanto todos os instrumentos se encontram sem qualquer problema, algo de muito estranho acontece quando Flausino canta. Ter nas mãos uma música tão boa, com uma produção de impressionar e rimar “futuro” com “juntos” é decepcionante. “Mandou Bem” é um filme de Michael Bay: explosões e takes incríveis para um roteiro vergonhoso.

O grande problema aqui é não o fato do Jota Quest estar tentando usar do capital de Nile para valorizar seu passe – isso é o que se faz nesse mercado, aqui ou lá fora. O que entristece é a oportunidade perdida. “Mandou Bem” não é de todo mal, mas fica só na descrição, na embalagem. É uma música do Jota Quest com guitarra do Nile Rodgers, não mais. Não há esforço visível, só uma banda que, por falta de concorrência, governa o pop brasileiro com a mesma plataforma falha de 11 anos atrás.

Contudo, ninguém põe Nile Rodgers e paga uma grana pra gringo produzir e não se prepara para investir em marketing. Flausino cantando uma letra ruim e muito mal encaixada não fará, certamente, de “Mandou Bem” um fracasso, assim como aquele tecladinho horrível ao final de “Get Lucky” não afundou o single mais bem-sucedido de 2013. Para desespero das inimigas e das recalcadas, o Jota Quest voltou, e provavelmente tem mais um hit. E é feat. Nile Rodgers.