Lupe de Lupe | Por Enquanto

Com dois filmes diretamente relacionados à banda prestes a estrear, não é como se o Legião Urbana estivesse realmente correndo risco de ser apagado da nosssa memória coletiva. Se o legado populista de Renato Russo e cia permanece tão presente quanto sempre esteve nos últimos 30 anos, a quantidade de mediocridade feita em nome da banda e vendida como homenagem vem há muito obliterando o fato que a obra da Legião permance uma das mais importantes esteticamente para rock brasileiro. Num momento em que muita gente se questiona sobre a própria viabilidade comercial e artística das bandas do gênero no Brasil, é notável a falta que faz uma figura que, como eles, consiga se conectar com a massa enquanto mantém um alto nível de integridade artística.

Num cenário como esse, é bom ver alguém tão descontextualizado como o quarteto de Belo Horizonte Lupe de Lupe fazendo o que fez com a obra de Renato. A versão do grupo para “Por Enquanto” – lançada para comemorar os 4 anos da própria Lupe de Lupe e não alguma efeméride da Legião – reimagina a balada frágil, inicialmente esquecida no primeiro álbum da banda de Brasília e depois vertida em sucesso de roda de violão por Cássia Eller, como algo muito mais estranho. Enquanto as versões cheias de cordas e sopros que vieram depois descaracterizam a música, a “Por Enquanto” da Lupe de Lupe devolve e ressalta o sensação de imobilidade e nostalgia tão presente na letra e na gravação original. Sobre uma base grossa distorção e reverb, Gustavo Scholz declama plácido a letra da faixa, nos lembrando que, de fato, nada mudou, nem aquela harmonia tão devastadora que fecha a canção. Num momento em que a exumação de cadáveres está prestes a recomeçar, é inegável que ainda há algo de podre no Reino do Rock Brasileiro. Mas nesses 3 minutos, o Lupe de Lupe nos lembra que há algo de muito bonito também.

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