Há uma junção de erros em “Sem Querer”. A mais óbvia é não ter nenhum dos pilares do funk carioca: espontaneidade, agressividade e vocação popular.

Eu curto imaginar que a primeira frase solta da música (tem coisa mais brega que soltar uma frase antes da música começar?) é muito semelhante aquele famoso vídeo do apresentador Gilberto Barros alucinado com o grupo Kassino. Fora isso, MC Ludmilla é tão triste quanto a mudança de nome e o desejo mesquinho da Warner Music Brasil (a mesma gravadora de Anitta) de pasteurizar a dona de um dos grandes hits da história do funk carioca.

Pediu-se que MC Beyonce não mais errasse as concordâncias nas letras musicais. Como se, de fato, houvesse erro proposital. Pediu-se também que, por necessidade legal, MC Beyonce trocasse de nome. Essa é a saga das gravadoras no Brasil: pede-se. Pede-se. Pede-se. A mesma indústria que ainda briga para ter uma música na novela, a mesma indústria que ainda acredita no potencial da Sandy — e se bobear, grava um disco da Família Lima.

“Sem Querer” é um lado-b que Anitta não gravou, suponho. Afinal, como já dito aqui, Anitta não se assume como mulher — é apenas uma fantasia machista. Assim, não gravaria uma música que tem um refrão “Eu sou a galinha das noitadas / curto as madrugadas bebendo uma gelada”.

Como nós já sabemos, Anitta não bebe, não trepa, é uma menina má da quinta série ou categoria. Beyoncé ou Ludmilla não. “Fala Mal de Mim” já é um hino do funk carioca e, lá, tem tudo o que pode te surpreender no gênero: espontaneidade. Continua sendo infantil o jeito como as gravadoras interpretam os fenômenos que não nascem mais embaixo dos braços cansados de Memês, Liminhas. Dennis e produtores congêneres.