Uma verdade ganha força a cada carnaval e a cada lançamento vindo da Bahia: o ano de 1997 continua dono de uma safra inigualável para a música verdadeiramente popular brasileira. “Lepo Lepo” talvez soe sensacional para muitos. Mas se isso acontece, é preciso ter em mente a possibilidade de que as produções anteriores tenham sido tão despreparadas e ruins quanto ambiciosas.

Não à toa, é mixando Gasparzinho e Banda Eva em uma única canção que o Psirico se garantirá como o dono do único hit do carnaval de 2014. E único é pouca coisa demais. E, claro, triste: a música popular radiofônica nunca produziu em escala tão larga mas também com potencial tão baixo nos últimos anos. A canção popular de 2014 do Psirico é um arrocha inspirado na história do segurança da banda que viu a amada continuar ao seu lado mesmo com o carro sendo pego como caução e que revela o que muito funk paulista devia ter tentado em 2012 e 2014. Mas, ao mesmo tempo, é bem semelhante às respostas que surgiam após algum hit do pop-sertanejo (“Camaro Amarelo” x “Fiorino”). A ressalva é que a canção é, basicamente, conhecida do público de micaretas desde meados de 2013 — quando Márcio Victor chamava todas as mulheres para beijá-lo na boca em cima do palco — com direito a guitarra distorcida no refrão e limada da versão estúdio.

Os méritos de “Lepo Lepo” parecem surgir mais por conta da dúvida em relação ao restante da música popular do que propriamente pelo seu próprio potencial. O refrão sensacional corre o risco de ficar só em 2014 por causa dos versos que antecedem o pré-refrão serem doloridamente tão genéricos e em momento nenhum pilares para o auge da canção ou mesmo pontos de marcação como os de “Me abraça, me beija”, por exemplo. É um meio-termo demais pr’uma música popular tão gostosa de ouvir. Não à toa, o compositor Felipe Escandurras é dono de duas ruindades atuais: “Tempo de Alegria”, comprada por Ivete Sangalo, e “Fui Fiel”, famosa na Bahia por causa do cantor sensação dos camelôs Pablo.

Sim, ok. Mas o que há de se fazer? No underground disso tudo, a ruindade é quase obrigação. O próprio Gasparzinho surgiu com uma premissa quase dub de arrocha e pagodão e, hoje, é um dos piores exemplos de música potencialmente radiofônica. É por isso que o vocalista Márcio Victor é tão soberano em “Lepo Lepo”. O outro motivo é a esperteza de fugir do pancadão; mas a busca por novos nichos não é novidade para o mainstream. Na dúvida, em ano de Copa do Mundo, prefira dançar Lepo Lepo a Waka Waka.