Um dos primeiros pensamentos que podem passar pela cabeça do leitor do Fita, ao ouvir a primeira faixa divulgada do inusitado dueto entre Lady Gaga e Tony Bennett é: escrevem sobre essa faixa apenas porque é Lady Gaga, porque, no fim das contas, essa música aí não tem nada demais, nem nada de novo, e como ela saem aos montes outras iguais a cada mês, a cada ano.

E é a mais pura verdade: mais do que a música aqui, falamos de Gaga, do inusitado encontro entre uma das mais importantes artistas pop com um dos mais respeitados cantores de uma época de ouro da canção americana que, sem dúvidas, não voltará mais.

Ora, é evidente em “Anything Goes” a qualidade técnica e a beleza do canto de Gaga e, talvez, ela não precisasse provar para muita gente suas qualidades enquanto cantora. Não é de hoje que cantoras de capacidade técnica assombrosa são vendidas como produto máximo da música de massas norte-americana. Não deixa de ser louvável, no entanto, a busca de Lady Gaga por novos horizontes, deixando latente o reconhecimento de que talvez sua fórmula de europop + overdressing já não choque mais do que um encontro com Marina Abramovic ou um dueto com Bennett.

Gaga sempre teve o extravagante e o assombro como parte da seu em geral convencional pop. Assim, não nos surpreende que, mudando o gênero, Gaga não seja ousada na música, mas apenas no que se encontra ao redor dela. Em outras palavras, “Anything Goes” é música bem feita, com Gaga demonstrando que sabe fazer o que faz, mas o que chama atenção e o que provavelmente vai fazer vender seu novo álbum é justamente o encontro de dois universos a princípio distantes, na cama de uma música mais uma vez sem preocupações com a inovação.