Se você acompanha, ainda que seja como eu, de longe, o retorno do U2 aos holofotes em 2014, é quase inevitável não pensar em “Invisible”, seu mais novo single, como uma mensagem aos fãs do grupo. Ao que parece, o U2 decidiu sair do trono quase auto-proclamado (vide suas turnês megalomaníacas) de maior banda de rock do mundo e decidiu fazer algo que soasse novo ou renovado, ao menos para seus integrantes.

Não à toa, o novo disco da banda se chama “Insecurity” e Bono já saiu por aí, como de praxe, explicando-se. Na entrevista a Zane Lowe, ele fala sobre “Invisible”: “I think ‘Invisible’ is a great song, but I don’t know how accessible it is. We’ll find out if we’re irrelevant. I’m perfectly prepared for people to try and blow us off the stage. We’re just not going to make it easy.” (Algo como: “Acho que ‘Invisible’ é uma grande música, mas não sei quão acessível ela é. Vamos descobrir se nós somos irrelevantes. Eu estou perfeitamente preparado para que as pessoas tentem nos chutar do palco. Nós só não vamos facilitar as coisas.“)

Tudo bem, toda essa conversa pode ser mais um floreio de um homem acostumado a floreios (não só vocais). Até porque, se Bono está perfeitamente preparado para ser rejeitado, o álbum não talvez não precisasse chamar-se “Insecurity”. Mas, talvez e só talvez, a maior insegurança do U2 esteja relacionada a eles mesmos. Por isso, chamar um produtor ousado porém seguro como Danger Mouse pode ter sido uma das melhores decisões do U2 como banda em muitos anos.

Quanto a faixa propriamente dita, reconhecemos em  “Invisible” o U2 de sempre, mas de fato numa forma mais enxuta, mais direta, mais condensada. Seu refrão é arrebatador, o que salva a faixa de um mimimi irrelevante que permeia as estrofes iniciais. Ainda que musicalmente não traga nada de exatamente novo (e ninguém de fato esperaria algo do tipo do U2), “Invisible” traz talvez no refrão a chave para entender a insegurança que dá nome ao novo álbum, acompanhe:

I’m more than you know
I’m more than you see here
More than you let me be
I’m more than you know
A body in a soul
You don’t see me but you will
I am not invisible

“Invisible” mostra, a seu jeito, que até mesmo a maior banda do mundo pode ser tomada pelo receio de ser irrelevante, e no fim é reconfortante ver que ainda há sinceridade, ainda que uma sinceridade sensacionalista, na música do U2. E ouvir Bono, logo ele, cantar que não é invisível, que é mais do que você imagina, mais do que você vê e o deixa ser, é algo realmente digno de ser reconhecido. Ao que parece, o U2 está no bom caminho, mais uma vez.