30 Melhores Álbuns Internacionais de 2012

30+

 

[30-21] [20-11] [10-01]

10.10-chromatics-kill-for-loveChromatics
Kill For Love

De cara no dream pop, o Chromatics se meteu numa encruzilhada de acordes e pausas para criar canções reflexivas. As arestas de “Kill for Love” são podadas com camadas eletrônicas e filtros que fazem a voz soar na mesma frequência dos instrumentos. A toada do disco é urbana, artificializando para sensibilizar. A paisagem da crise de “These Streets Will Never Look The Same” é a TV ligada 24/7 no quarto. E não adianta ficar mal ou ébrio, isso não soluciona os problemas se a agonia só espanta a solução. Imagens polivalentes no maior álbum indie do ano em uma hora e meia de música sem parecer filler não é para qualquer um. (Túlio Brasil)

09.tame-impala-lonerismTame Impala
Lonerism

Psicodelia é sempre viagem, mas não é sempre que o itinerário dá tão bem e tão certo. Pelas versões preguiçosas do gênero que têm se alastrado nos últimos tempos, parece que bastaria um tanto de efeito e pouquíssimo de sentido pra fazer um disco viajandão, maluco, piradinho. Kevin Parker, no entanto, por mais que aparentemente fume quilos e quilos de maconha por ano, nào é um hippie à deriva esfumaçada, em questão de som: é um piloto, e, como tal, tem um destino. Os caldos grossos de sintetizador, os vocais como se tivessem passado por um pedal de wah wah e as linhas de guitarra cheias de curvas são apenas as piruetas de uma aeronave, cavalos de pau aéreos que ele resolve dar no caminho de volta pro quarto. “Lonerism” tem o tipo de psicodelia que Lennon – canalizado muito bem pela garganta de Parker – fazia nos anos 1960: meditações ganchudas, canções de pé no chão e cabeça nas nuvens. (Rafael Abreu)

08.09-mac-demarco-2Mac Demarco
2

Há uma metáfora já um tanto batida que tenta equiparar o tratamento vintage de certos álbuns com o usado por pessoas no Instagram, mas essa metáfora é pejorativa na maioria das vezes: a pessoa não é uma boa fotógrafa e a foto chama atenção demais. No caso, o músico poderia ser mediano que o tom vintage resolveria. Em 2012, “2” é um dos poucos álbuns que fogem (bem) disso por causa da habilidade de Mac Demarco em compôr canções que exploram um certo voyeurismo do cotidiano e destaca seu poder de criação e observação. Você conhece a mãe na cozinha, o irmão dando rolé de skate, o pai cuidando da vizinhança. No fim, você está íntimo e são as escolhas musicais do canadense presentes em “2” que permitem isso. (Yuri de Castro)

07.beach-house-bloom250Beach House
Bloom

Como fica explícito num dos significados da palavra escolhida para o título, esse é um trabalho que foi feito para atingir a máxima beleza. A boa notícia é que “Bloom” é exatamente o que Victoria e Alex almejavam. O Beach House é uma joia envelhecida que Victoria e Alex Scally foram polindo até chegar no brilho intenso de canções como “Lazuli”. O que também demonstra o quanto a dupla parece se agarrar a uma ideia bastante específica do que é bonito. Numa era em que os artistas são quase que obrigados a mudar seu som a cada tweet, permanecer é uma ideia tão arriscada quanto se transformar. (Livio Vilela)

06.06-japandroids-celebration-rockJapandroids
Celebration Rock

Da primeira vez que ouvimos falar de Japandroids, eles estavam nos explicando como “nós costumávamos sonhar, agora nos preocupamos com a morte” – e não é como se muito tivesse mudado desde então. No entanto, se “Post-Nothing” e “Young Hearts Sparks Fire” eram sobre a merda que é essa sensação de eterna crise “bons tempos” que parece acometer nossa geração, “Celebration Rock” traz no título uma outra possibilidade. O que eles estão dizendo é culpem quem vocês quiserem – nossos pais, a internet, a MTV – por nossa preguiça e melancolia geracional, nós ainda ainda estamos vivos e saudáveis e provavelmente vamos permanecer assim por muito tempo. É um corte na raiz do cinismo que musicalmente se traduz na mais compacta, despretensiosa e melhor coleção de canções de rock-rock desde o último bom álbum do Hold Steady (quando foi isso?). Rock de celebração, um título bem apropriado. (Livio Vilela)

05.liars_wixiw-250x250Liars
WIXIW

As pessoas ouvem o que o Liars tem para dizer, as pessoas olham o que o Liars tem para mostrar e tudo se resume a uma palavra: tensão. Reducionista e preguiçoso como parece ser, o apodo “disco eletrônico do Liars” é, ainda assim, bem revelador do que o ouvinte encontra. Influenciados ou em confluência cósmica, o grupo se encontra com o Radiohead em passagem idêntica quando saíram do rock de “Ok Computer” para o eletrônico em “Kid A”. A questão da tensão como força motriz não impede que a aproximação com a eletrônica resulte em passagens relativamente amigáveis. O single “No.1 Against the Rush”, por exemplo, é uma clareira na constante de escuridão. Alguns momentos de “WIXIW” mostram que eles estão prontos para a paz, também. Só que o Liars vai sempre preferir a tensão. Talvez porque, assim, se tornou um dos grupos mais curiosos, consistentes e importantes da música americana atual. (César Márcio)

04.fiona-apple-the-the-idler-wheel-is-wiser-than-the-driver-of-the-screw-and-whipping-cords-will-serve-you-more-than-ropes-will-ever-doFiona Apple
The Idler Wheel…

“The Idler Wheel”, como um disco em que toda uma carreira se realiza, é um trabalho cuja força vem justamente do limiar em que Fiona Apple se empoleirou, há dezesseis anos: o ponto em que a confissão se torna arte e o particular se faz universal. Com a própria voz, um tanto de batidas esparsas, outro tanto de instrumentos de câmara e um piano, Fiona escava, em canções enganosamente comuns, o extraordinário do coração partido. Desprovido de uma produção ostensiva, este é, talvez, o álbum mais nu que lançou, e é também o mais preciso, no jogo de se despir que Fiona faz há tanto tempo. Talvez seja difícil perceber isto, em tempos em que a regra é se desavergonhar em redes sociais, mas a beleza de um disco como esse é que, no processo de virar a própria alma do avesso, a cantora saiba exatamente o que mostrar e o que esconder. (Rafael Abreu)

03.frank-ocean-channel-orangeFrank Ocean
channel ORANGE

Quem diria que toda anormalidade do Odd Future seria coadjuvante para Frank Ocean. Acima de escatologias e da atitude peculiar dos rappers, o jovem coletivo de hip-hop trouxe o talentoso crooner para dentro do mainstream. É fácil criar um disco pela estética sem justificativa, quando o conteúdo não banca o produto. O álbum de Frank Ocean tinha tudo para cair nessa: vem na ressaca da popularidade do Odd Future e chegou imediatamente após o cantor assumir a bissexualidade. Acontece que a música que tocou em rede nacional americana, “Bad Religion”, é linda, e o disco é verdadeiramente feito de ótimas canções. “Channel Orange” traz um R&B sacral permeado por flows de rap bem solucionados em monólogos. Frank desabafa num tom que muita gente fala que é brega, cria referências com franqueza e canta demais. (Túlio Brasil)

02.Dirty-projectors-swing-lo-magellanDirty Projectors
Swing Lo Magellan

“Swing Lo Magellan” é o disco em que um artista, David Longstreth, quase sempre ligado ao hermetismo, ao críptico, ao estranhamento decide simplesmente “fazer canções”. A ideia de fazer canções aqui é levada a sério e tem seu sentido mais estrito: Longstreth compõe, canta, arranja e escreve suas letras com sinceridade absurda. Ao fazê-lo, não apenas demonstra que seu talento e sua lucidez vão muito além da técnica e da fuga dos lugares comuns que sempre representaram a música do Dirty Projectors, mas também – e aqui vale repetir como ele o faz: com canções honestas e sinceras – Longstreth joga luz na futilidade e frivolidade da música pop atual. Ouvir “Swing Lo Magellan” e prestar atenção na maneira como Lonsgstreth é franco e verdadeiro com seu ofício e arte faz com que reconheçamos sua excelência, assim como a falsidade reinante na música do nosso tempo. (Matheus Vinhal)

01.Grizzly-Bear-ShieldsGrizzly Bear
Shields

Há muito o que falar sobre “Shields”. Ou não há nada. Das muitas melodias bem alinhavadas, dos acertos a cada instante, da absurda e quase sufocante ausência de equívocos, da beleza aterrorizante de cada instrumento, voz, ruído, ambiência: há pouco a se falar. O que há para tudo isso é o paradoxal silêncio que o encanto com “Shields” gera. Continuando um projeto que começa em “Yellow House” (2006) e amadurece em “Veckatimest” (2009), o que o Grizzly Bear faz com impressionante sucesso e excelência em seu último disco é um andar no escuro da música, jogando a luz difusa dos seus discos anteriores no semi-desconhecido que é “Shields”. É como caminhar impecavelmente na escuridão da própria sala de estar, a prataria toda exposta, a perna do sofá pronta para o dedo do pé. E nada: nenhum arranhão. O Grizzly Bear trabalha a serviço do belo, do prazer estético, sem torná-los vazios nem abandonar o conceito. E faz o disco mais bonito de 2012, onde há espaço tanto para a nuance quanto para a melodia simples e envolvente; para a experimentação e para o porto seguro da canção; para o alvoroço do ruído e o recanto do silêncio. (Matheus Vinhal)

 

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