Os 15 Melhores Álbuns Brasileiros de 2014

10.Untitled300Lurdez da Luz
“Gana Pelo Bang”

“Gana Pelo Bang”, segundo álbum de Lurdez da Luz, é um tributo ao baile. Ou ao heavy baile, se você preferir. “Gana pelo bang” é cheio de interseções entre hip hop, trap, rasteirinha e outras ramificações contemporâneas da música eletrônica, não só made in Brazil. Não é coincidência que Leo Justi e Leo Grijó, que têm se destacado nessa seara, tenham produzido faixas do disco. Lurdez também vai bem quando se embrenha em outros ritmos, mas tudo passa pelo tamborzão hi-tech que ela define com o BANG do título. (Mateus Campos)

09.varios-goma-laca-300Vários Artistas
“Goma-Laca – Afrobrasilidades Em 78rpm”

Espaço curto, ficha longa, mas, nesse caso, não dá para evitar. Projeto de Biancamaria Binazzi e Ronaldo Evangelista. Direção musical de Letieres Leite da Orkestra Rumpilezz, responsável pelos arranjos e que também toca ao lado de Gabi Guedes, Serginho Machado, Marcos Paiva e Hercules Gomes. Cantam Juçara Marçal, Karina Buhr, Lucas Santtana e Russo Passapusso. Não tinha como dar errado e não deu. As releituras lançam luz não só sobre o objeto, a música, mas também sobre a pesquisa. Ainda que a segunda não exista sem a primeira, sua função não é acessória, é necessária. “Goma-Laca – Afrobrasilidades em 78 rpm” presta tributo a um pedacinho de tudo que o Brasil deve, na construção de sua identidade, ao que herdou da mama África. Generosa, ela dispensa os royalties e faz do Brasil um país infinitamente mais rico. (Thiago Borges)

08.romulo-froes-barulho-freio-300Romulo Fróes
“Barulho Feio”

Romulo Fróes segue com seu martelo, pacientemente, separando os elos da corrente. Isolar os elementos – palavra, ritmo, melodia, barulho, sentido, silêncio – faz a matéria-prima de um processo de fundição que poderia ser estéril ou mero exercício. “Barulho feio” não é nada disso. É um gesto radical de decomposição que se transforma e se ergue coeso em torno da figura e da voz de Romulo. A música é grande, barbuda, reflexiva, meio solene, meio desajeitada e grave; é cada vez mais um retrato. Na formação dessa identidade entram as parcerias habituais – Nuno Ramos em especial – que também já se fundiram à proposta, assim como a cidade, palco da reintegração. Qualificar como “feio” é modéstia excessiva, é interpretar o desejado estranhamento à maneira dos ouvidos mais preguiçosos. Mesmo sendo música bonita, “Barulho feio” é também um ótimo título. (Thiago Borges)

07.criolo-csbCriolo
“Convoque Seu Buda”

Tem gente que não gostou. Apesar disso, “Convoque Seu Buda” é para 2014 um bom disco. É claro que os fiascos de Projota e juvenis repetentes em matéria de senso estético ajudam Criolo a se fixar como o principal popstar do gênero no cenário independente nacional. Para 2015, não vale mais. E essa serventia também se torna baixa em retrovisor pois “Convoque seu Buda” encontrará “Nó na Orelha”, peça mór deste mercado pós-Ventura. Mesmo assim, é este álbum que livra Criolo para o futuro; 2011 não iria se repetir e 2014 veio com desconfiança após acusações de tom sensacionalista sobre plágios. Para a música nacional em 2014, “Convoque Seu Buda” é bom. (Yuri de Castro)

06.o-terno-300O Terno
“O Terno”

“O Terno” é um grupo bem direto nas suas intenções. A faixa-título do primeiro álbum “66” dá as dicas da banda bem humorada e apaixonada pela década de 60. O segundo álbum homônimo não cria nenhum paradoxo com o debut e mostra a banda muito mais amadurecida: não traz apenas um bom single, é um disco com boas canções. O grupo continua no motor da jovem guarda e do rock 60′ da primeira à última faixa do álbum. A costura das letras que é o diferencial: ora são cantadas em tom de desabafo com bom humor, “Bote Ao Contrário” e “Pela Metade”; excessivamente lúdicas, “Quando Todos Estão Dormindo”; e até uma crônica falada sobre o estereótipo da banda em “Eu Confesso”. O segundo álbum d’O Terno é o mais apropriado para você indicar ao seu amigo que torce o nariz para as novas bandas daqui. (Túlio Brasil)

05.russo-passapusso-paraiso-da-miragem-300Russo Passapusso
“Paraíso da Miragem”

Não bastassem “Arrocha” e “Esses Patifes”, de Curumin e Ruspo, respectivamente, eis que surge “Paraíso da Miragem” para abrilhantar a discoteca selvagem brasileira. Pouco saciado com as intervenções no disco do parceiro nipo-paulistano, Russo condensou tudo o que já havia sendo produzido maravilhosamente à frente do BaianaSystem e fez uma grande peça pop do indie brasileiro, por mais estranho que tudo isso seja já que não sabemos o que é indie e nem o que é pop aqui no país. De qualquer forma, “Paraíso da Miragem” está radiofonicamente pronto e se não toca é porque as rádios não estão — de fato — prontas. Azar dos dinossauros que estão perdendo a chance de ouvir uma mistura única de Bahia, Marcos Valle e Cassiano. (Yuri de Castro)

04.moreno-veloso-coisa-boa-300Moreno Veloso
“Coisa Boa”

Depois de tanto tempo sem lançar um disco, era natural que a expectativa em torno de um novo trabalho de Moreno Veloso se tornasse algo insustentável. A solução encontrada por Moreno é a melhor possível, para tudo na vida: levar numa boa, como se nada fosse. Assim, Moreno lança em 2014 um disco atemporal, no sentido de que poderia ter sido lançado meses depois de “Máquina de Escrever Música”, de 2000, ou anteontem. A verdade é que pouca e muita coisa mudou no cenário brasileiro de lá pra cá. “Coisa Boa” é, assim, dos discos alheios a tudo que se passa na música ou mesmo no Brasil, talvez no mundo. Nada mais anti-Caetano do que isso, aliás. Moreno, a seu modo e guardando as óbvias proporções, é menos Veloso e mais Caymmi, assim como Alice é menos Caymmi e mais Veloso. Além disso, “Coisa Boa” funciona também para mostrar, mais uma vez, as credenciais de Moreno em talvez seus papéis mais interessantes nos últimos anos: a de compositor e, principalmente, produtor musical. (M. Vinhal)

03.300Juçara Marçal
“Encarnado”

“Encarnado” bastaria por si só; pela sua existência, pelo seu marcar de espaço na cronologia desta permanente nova geração de compositores brasileiros. Mas além de Kiko Dinucci, Romulo Fróes, Rodrigo Campos e Marcelo Cabral, o álbum tem também regravações de Itamar Assumpção e de um recente Tom Zé e, além do mais, tudo o que trouxe Juçara até aqui: força. A mesma que falta para que nasça o protagonista de “Ciranda do Aborto” — desde já, uma música indispensável. “Encarnado” é brabo. (Yuri de Castro)

02.alice-caymmi-rainha-dos-raios-300Alice Caymmi
“Rainha dos Raios”

Um rápido bater de olhos nos nomes e sobrenomes que fazem “Rainha dos Raios” já dá uma noção de que se trata de um daqueles álbuns conceitualmente importantes. Pense só: a jovem e promissora Caymmi, neta de Dorival e filha de Danilo, gravando Caetano de safras tão distintas (“Jasper” de 89, “Homem” de 2006 e “Iansã” de 72, famosa na voz de Bethânia) ao mesmo tempo em que compõe com o rei dos hits populares Michel Sullivan (“Meu Recado”, um possível hit popular em si), e reposiciona um funk de Marcinho (“Princesa”). Tudo isso sob a direção de Strausz, DJ e produtor que teve seu começo na música em banda emo e hoje é referência vanguardista na nova cena carioca. E ainda tem a canção mais marcante de Maysa (“Meu Mundo Caiu”), uma pérola pouco ouvida do Tono (“Como Vês”) e a versão aportuguesada do hit latino “Soy Rebelde”.

Com tanto pedigree, “Rainha dos Raios” tinha tudo para ser refém das grandes de expectativas, mas não é. É, ao contrário, um álbum que surpreende e faz isso não pela ousadia de sua ficha técnica, mas por como conseguir concatenar ideias tão distantes com a naturalidade e articulação que falta a boa parte dos contemporâneos da cantora. Sem medo das sombras de seu sobrenomes e de suas referências, Alice e sua voz fazem suas qualquer canção e “Rainha dos Raios” tem 9 que a partir daqui são só dela. (Livio Vilela)

01.racionais-cores-valores-300Racionais MC’s
“Cores & Valores”
Parece impossível que o hip-hop brasileiro, sozinho, consiga superar os Racionais MC’s. Especialmente, que consiga superar “Sobrevivendo ao Inferno”, a obra mastodôntica que cementou o nome do quarteto paulista no imaginário popular e o transformou no maior e mais influente elemento do gênero. Se, até agora, ninguém conseguiu superar Mano Brown, Edi Rock, KL Jay e Ice Blue, essa tarefa vai ter que ser cumprida por eles mesmos. É preciso ainda aguardar os possíveis desdobramentos deste novo álbum no cenário nacional, mas “Cores & Valores” traz, desde já, uma constatação: os Racionais superaram sua própria mitologia.

Um disco como esse terá, certamente, algum custo para o grupo. É possível imaginar a quantidade de fãs decepcionados com o conteúdo de “Cores & Valores”, mais relaxado, mais engraçado, mais sexual e, importante, mais musical. Enquanto Criolo canta que “as mina colam e atrapalham ativista” buscando a chancela da MPB, os Racionais subvertem o jogo em forma e conteúdo, arriscando e ganhando na maior parte das vezes. A espécie de suíte “Somos o que Somos” abre o álbum e um mar de possibilidades para o grupo e para seus seguidores. É certo que alguns rostos podem se corar com a ingenuidade de “O Mal e o Bem” mas até ali se percebe uma tentativa, um esforço genuíno para não entregar só mais um disco “consciente”. Se não é o melhor disco lançado no Brasil em 2014, “Cores & Valores” é, sem dúvidas, o disco mais importante. (Cesar Marcio)

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