Djavan | Rua dos Amores

Djavan

Rua dos Amores

[Luanda; 2012]

6.7

ENCONTRE: iTunes

por Cesar Márcio; 21/09/2012

Dias infernais na Região Sudeste. Nordeste e Centro-Oeste, então, nem se fala. Está muito quente por aqui. E, para piorar, está muito difícil achar um bom lugar pra ler um livro. Djavan, que nos últimos trabalhos se especializou em compor canções para esses momentos específicos, ficou numa situação delicada. Se é, dos medalhões da MPB, o de maior vocação e afeição com a música pop (comercial, de rádio, mesmo), o alagoano viu sua popularidade diminuir nesses tempos de dias quentes e Jorges Vercilos. E parece que seu novo disco, “Rua dos Amores”, se constrói a partir dessa situação.

Temos de início cinco ou seis faixas de fácil identificação para qualquer um que ouviu rádio no Brasil nos últimos 30 anos. Há um luxo maior nos arranjos, eventualmente, mas pouca variação estrutural numa das mais sólidas instituições musicais do país: o estilo Djavan de cantar e compor. “Já Não Somos Dois” e “Anjo de Vitrô”, quase paródicas, abrem o disco exemplificando a afirmação ao apostar em smooth jazz, adornado com as felizes intervenções do trompete de Jessé Sadoc na segunda, e na habitual fluência frasística do compositor.

Nesse início de composições quase fabris, o single “Bangalô” talvez seja a canção que mais situe o ouvinte sobre as intenções do autor, uma faixa que se esforça tanto para não incomodar que acaba sumindo da memória em poucos segundos. O “não-tão” funk “Pecado” e “não-tão” samba “Acerto de Contas” se destacam, mesmo suavizando seu potencial para não destoar do todo easy-listening.

Como se já estivesse com o compromisso profissional quitado, Djavan usa a parte final do disco para fazer mais e melhor. Há uma quebra de padrões em “Quinze Anos” e “Reverberou”, quando, timidamente, se aproxima dos transambas do amigo Caetano. E um eventual esmero no receituário pop contumaz em “Vive” e “Pode Esquecer”. Para terminar, o lento lamento soul da faixa-título reforça a distinção entre os lados do álbum, apresentando uma tristeza elegante e incomum ao repertório do compositor.

Essa divisão tão clara pode até não ser intencional, mas mostra, mesmo que inconscientemente, um Djavan preocupado com o seu lugar no imaginário do brasileiro. Em metade de seu disco novo, ele só quer que esse seja um bom lugar para ler um livro. Na outra metade, ele tenta colar seu nome nos grandes da MPB, num movimento que já foi mais incisivo em outras épocas. Mas essa “Rua dos Amores” mostra que, no final, esse lugar é um confortável (para ele) meio-termo.