Entrevista: Dorgas

Foi quando eu escrevia para o finado Bloody Pop que eu ouvi falar do Dorgas pela primeira vez. O quarteto tinha lançado havia pouco tempo o EP “Verdeja Music”, e o boca a boca tinha levado o lançamento aos ouvidos de Livio, fundador do blog e co-fundador do Fita Bruta. Descobri, ouvi e achei o Dorgas bastante interessante e já tinha a opinião esfriada, lá pelo fim do ano: até então, o Dorgas era só uma promessa.

Isso faz quase dois anos. De lá pra cá, um bocado de amadurecimento, apuração e refinamento de uma proposta que só se esboçava, na estreia. Em 2011, Gabriel Guerra (vocal e guitarra), Eduardo Verdeja (guitarra), Cassius Augustus (vocal e baixo) e Lucas Silveira (bateria e percussão) começariam a realizar o Dorgas como uma banda de voz própria e confiante. “Loxhanxha”, o single da capa estranha com as lhamas, acabaria sendo, pra mim, a melhor faixa brasileira do ano, e “Grangongon”, meses depois, continuaria a manter alto o nível de exigência que se poderia ter da banda.

E agora, em 2012, o que se espera é mesmo um disco cheio, sem data de lançamento, sem título definido nem tracklist fechada. A única coisa que sobra é expectativa.

A conversa a seguir, gravada numa tarde de fevereiro no Fornalha da Voluntários da Pátria, é justamente sobre o nascer de uma banda, uma trajetória que traz o Dorgas de um projeto incerto a um passo mais próximo de sua própria realização. Guerra e Verdeja falam não só sobre como é “crescer” tanto em pouco mais de dois anos, mas também sobre o que têm ouvido (Steely Dan puxa o bonde), da possibilidade (ou não) de uma cena de música carioca, sobre o tipo de banda que acreditam afirmar ser, com o disco que vem aí, e sobre como o “hipster é uma bênção” (palavras de Guerra) para bandas como a deles.

Fita Bruta: A primeira coisa que vocês podiam fazer é uma espécie de balanço dos últimos anos como banda. Em que vocês mudaram, nesse tempo?

Verdeja: Eu acho que hoje a gente para muito mais pra escutar. Antigamente a composição era um pouco mais “tentar até acertar”, sacou? E acho que hoje em dia é mais parar, respirar um pouco, fazer as coisas com um pouco mais de calma.

Guerra: Acho que o grande negócio é que quando você começa a tocar ao vivo, quando você começa a ter uma rotina de ensaios, de shows, você começa a realmente sacar o que funciona e não funciona. Então em vez de você ficar gastando um tempo batendo a cabeça na parede, você começa a saber quais são as suas limitações como músico. Você começa a adaptar essas limitações de uma forma que seja criativa. A gente não vai chegar e fazer uma música que tenha, sei lá, um rap no meio. (risos) Mas, enfim, a gente pode melhorar o que a gente já faz. Eu acho que é isso que é o grande barato de você ter tempo com alguma coisa.

É por isso que é estranho quando as pessoas chegam pra gente e falam pra gente tocar o nosso primeiro EP. Porque era uma época que a gente tava começando e a gente não tinha noção de nada. Então tocar algo dessa época é meio…

Verdeja: Nem lembro como é que toca! Realmente é o que o Guerrinha tá falando. Era muito diferente. Era o Dorgas, mas a gente nao tinha feito o número de shows que a gente tinha feito hoje, o número de ensaios, o numero de gravações, o numero de tudo, entendeu? Essas coisas fazem você refletir, inevitavelmente.

Guerra: E não é só com a gente: o que a gente mais tem é banda amiga que começa ao vivo e tem milhões de planos pra fazer as coisas certinho e já no segundo, terceiro show já mudou de ideia.

Acho que o grande negócio é que quando você começa a tocar ao vivo (…) você começa a realmente sacar o que funciona e não funciona (…) você começa a saber quais são as suas limitações como músico.

FB: Vocês fizeram bastantes, nesse meio tempo.

Guerra: A gente fez, mas não foram tantos assim.

Verdeja: Foram 32, no ano passado. E um em 2010.

Gabriel: É um bom número, mas não é um número excelente.

FB: E em questão de reconhecimento? Voces ficaram relativamente mais famosos desde que vocês lançaram o ep. Como vocês têm lidado com isso?

Gabriel: É engraçado, porque uma vez que você entra nesse “cenário” o que acontece, basicamente, é que você vira um hype. E esse negócio de hype é meio vício, porque você sempre quer um pouco mais. Toda banda que começa, na verdade, se sente especial. E quando as pessoas começam a falar dela, ela se sente mais especial ainda. É a mesma coisa com a crítica, você começa a valorizar um pouco mais o seu próprio trabalho. Mas com o tempo, você começa a deixar de ser aposta. O que é nosso caso, o que é bizarro.

Dia desses saiu em algum blog a lista de apostas de 2012. Aí nos comentários tinham umas pessoas assim: “E o Dorgas, e o Dorgas?”. Aí o cara do blog respondeu “O Dorgas não é uma aposta mais”. E aí é bizarro, porque você começa a ver que você entrou no jogo.

Verdeja: E agora é só mais um peixinho.

Guerra: Você não tem mais aquela coisa de pensar “Será que a gente vai ser o novo… Strokes? Será que a gente vai sair em primeiro lugar na MTV?”. Isso tira um pouco do romance de ser uma banda nova e te foca mais no que você tem que fazer.

FB: Eu imagino que deve diminuir um pouco a pressão, também.

Verdeja: Com certeza. Acho que hoje em dia a gente lida bem tranquilo, com isso. Tem sido uma coisa que nao tem preocupado muito a gente. A gente tem levado bem naturalmente.

FB: Nesse meio tempo vocês também tiveram os primeiros shows num lugar maior (show de abertura do Ariel Pink e no festival Carirocka, ambos no Circo Voador). Como foi a experiência?

Verdeja: Eu tava muito nervoso nos dois shows. E isso resume. O primeiro show do Ariel Pink, principalmente, eu passei o show inteiro nervoso. Nenhum outro tinha sido assim.

Guerra: É um ambiente que não é tão bizarro assim quanto pintam. Óbvio que você fica nervoso, porque é um palcão, e o Verdeja tá muito longe de mim, e isso porque a gente nem tinha todo o palco, porque o Ariel Pink tava pegando uma parte.

FB: E como foi tocar para um público que talvez nao estivesse lá pra ver vocês. Como foi a reação?

Verdeja: Acho que foi bem legal, cara, o feedback que eu recebi foi que o pessoal gostou bastante.

Guerra: É aquele negócio, você entra no palco e na primeira música você já se sente confiante, porque nesse lugares você pode tocar tranquilamente. Eu fico com um show num lugar muito pequeno, onde você nao tem garantia de como vao ser as coisas, do que no Circo Voador. Porque a partir do momento em que você tem confiança de que o que você precisa fazer é “só” tocar, você se sente mais confiante.

Verdeja: O som lá era ótimo. Então você presta mais atenção no peso que a banda tá dando pra música. Quer dizer, a gente faz uns shows na PUC que é um bongolô sonoro. Dentro, não dá pra ouvir nada, a galera que realmente queria ouvir tava fora, na janela.

E esse negócio de hype é meio vício, porque você sempre quer um pouco mais.

Guerra: Quando você toca nesses lugares, você tem certeza que as pessoas tão ouvindo. Acho que o fato de que a mensagem já tá chegando correto já me deixa um pouco mais tranquilo. Eu queria que todo show fosse assim. Eu queria que a gente pudesse tocar sem ter que se preocupar se o hi-hat tá soando muito alto, ou sem se preocupar com como é que a gente vai voltar pra casa depois, mas…

Verdeja: Seria um mundo perfeito.

FB: O Carirocka tinha um quê da ideia de cena, em volta da organização. Nesse sentido, como vocês avaliam o conceito de cena? Vocês acham que existe alguma no Rio?

Verdeja: Eu acho bem complicado falar de cena. Bem complicado mesmo.

Guerra: Eu não acho que existe cena, porque quando você aplica o conceito de cena você supõe que existe uma relevância social dessas bandas no Rio de Janeiro.

Verdeja: Uma relevância entre as bandas, também. Falta isso, também.

Guerra: A gente tem amigos, claro, e a gente ajuda os amigos quando a gente pode. Mas você falar que existe algo que move as pessoas a ponto delas querem apoiar aquilo fica meio que risível.

Verdeja: Eu acho que a cena devia influenciar as pessoas que tão fora da cena. Não é só as pessoas das bandas se influenciando. Sim, também isso, mas teria que ser uma coisa com mais força.

Guerra: Acho que aí não é uma cena: é um cenário. Uma cena se destaca mais que um cenário e se aplica a um movimento de pessoas em relação a ela, no âmbito também de divulgação.

FB: Mas o Carirocka tinha uma questão de “cena”, não?

Guerra: Era um festival que tinha essa ideia de montar algo pruma cena, mas, assim, não deixou de ser um festival onde as bandas tocavam pra quem queria ver o show de cada banda. Acontece que independente de onde você estiver, você pode ter um mega ethos entre as bandas de se apoiar e fazer música, só que isso não vai contar nada se você nao tem um hype que faça as pessoas seguirem aquilo. Às vezes eu falo uma coisa, e o pessoal fica meio bolado: o hipster é uma benção. Porque a partir do momento em que você tem gente que segue o seu trabalho e de outras bandas, você da um apelo muito maior àquela xxxx. Porque se você nao tem uma mídia que não…

Verdeja: …contextualiza, que não segue…

Guerra: …que não forma opinião, que as pessoas lêem e julgam, acaba que todo mundo fica meio perdido.

Verdeja: O papel da mídia é contextualizar. E informar. Se ela não faz isso…

Guerra: Tem vários [veículos, blogs] ótimos, mas você não tem nenhum que eu vou ler e pensar que tem um hype universal. Sei lá, o maior hype que tem no Brasil é o quê? Banda Uó. E isso se dá por contexto, porque é uma banda totalmente 2012: dois homossexuais e um transexual e as pessoas sentem mais sensibilizadas com isso, é uma questão mais social do que propriamente de hype feito em termos de mídia. Se você não tem alguém pra ser mandachuva e não tem algo que as pessoas veem como algo fixo, que elas possam seguir, acho que isso não tem esse conceito de cena. Você tem um cenário, sim, claro, sempre vai ter.

FB: Mas independente desse conceito de cena, como vocês avaliam o Rio de Janeiro em termos de música “jovem”, digamos, ou música nova, atualmente?

Guerra: É bem melhor que antes de a gente ter uma banda. Sei lá, em 2008, não tinha quase nenhuma banda que eu gostava.

Verdeja: Também acho que tá crescendo bem.

FB: Por que vocês acham que tá acontecendo isso?

Verdeja: Não sei, cara, acho que as pessoas tão abrindo mais a cabeça, alguns preconceitos estão caindo, têm mais sensibilidade.

Guerra: Final de década sempre acontece uma coisa que faz com que as pessoas avaliem muito os ideias da década inteira. É por isso que sempre acontecem coisas muito bizarras no final da década. Então começam a aparecer bandas que não só não parecem com o resumo da década como elas são de ideais totalmente diferentes do que era proposto. Você chega em 2011, 2010, e você tem o Sobre a Máquina e o Chinese Cookie Poets surgindo, e as pessoas falando sobre isso porque é as pessoas passaram a década passada inteira, pelo menos no Brasil, falando de Los Hermanos, sabe?

Verdeja: Não viveram isso, não tocaram isso.

Acontece que independente de onde você estiver, você pode ter um mega ethos entre as bandas de se apoiar e fazer música, só que isso não vai contar nada se você nao tem um hype que faça as pessoas seguirem aquilo. Às vezes eu falo uma coisa, e o pessoal fica meio bolado: o hipster é uma benção.

Guerra: Não só o Chinese e o Sobre a Máquina. Até mesmo a Banda Uó. O público fica procurando algo que seja fora desse modelo. É quase como se fosse um escapismo de procura de artista, sacou? Se não querem mais aquilo, vão atrás de outra. Assim como se daqui a cinco anos surgir uma porrada de bandas igual à Banda Uó, vai surgir uma banda que nem os Strokes (risos). É tudo uma questão de contexto. E essas bandas que têm essa noção do que “acontece” geralmente são as bandas que acham que isso é muito interessante. Não to falando que uma banda que soe, agora, que nem Los Hermanos, é ruim, tem ótimas bandas que soam que nem os Los Hermanos. Só que é uma questão de o que é interessante hoje em dia. Isso não tem nada a ver com qualidade. Tem a ver com a posição da banda em relação a uma questão social.

FB: É engraçado, porque eu nunca imaginaria que uma banda como a de vocês seria hypada assim em outro momento. Porque as pessoas achariam estranho demais.

Verdeja: Quando a gente lançou o Verdeja Music e lançou no Trama Virtual, eu lembro desse moleque me ligando e eu falando “Tá, conta outra!”

Guerra: A Trama é até um lugar que já preza mais pelo negócio do alternativo, mas a gente aparecendo na Vogue, sabe? Na Rolling Stone? Mas eu também não acho que a gente seja tããão estranho assim. As pessoas forçam a barra por causa disso.

FB: Ainda enchem o saco falando que vocês são super cabeçudos e tal?

Guerra: Com o tempo a gente acalmou um pouco a cabeça com relação a isso, mas ainda tem.

Verdeja: As pessoas têm que se ligar que uma coisa é canção e outra coisa é improviso, textura. São dois tipos de banda muito diferentes. A gente é uma banda de canção. Só vai ter canções no álbum, a gente praticamente só fez canções.

Guerra: As pessoas podem chegar e falar que a gente é esquisito. Isso a gente sabe. A gente não é tão convencional assim. Mas você acaba jogando num bololô de coisa que é daqui até aqui. Eu acho que não é tão preto no branco. Porque quando você joga a gente em tal grupo acaba ficando uma coisa tipo “Dorgas?” “Ah, uma banda… ‘experimental’” E aí você dá uma informação errada. Isso muda, sacou? A pessoa vai ouvir como se fosse uma banda experimental. Só que você tem bandas que tem realmente a proposta experimental e vão fazer o trabalho muito melhor que a gente.

FB: Falando do álbum que tá vindo. Qual a direção dele? E quão antiga é a ideia de fazer um disco?

Guerra: A coisa que a gente não abriu mão é que a gente queria fazer só música pro álbum. Uma banda hoje em dia tem que sacar que uma música, depois de lançada, é um marco de época. Nego fala assim “Ah, tal coisa é datada”, mas eu acho bacana ser datado. Eu não vou querer ouvir uma música de 1973 soando como 2012. Se você ouve todos os nossos singles, tem várias coisas assim de erro de pegada… Que a gente não gosta, é claro. Ninguem gosta de errar, mas é essencial pra aprendizado. Você tem banda que demora dez meses pra lançar um single porque, sei lá, tá corrigindo e editando a bateria e – e eu acho legal fazer isso. Mas se você não passa por etapas antes…

Verdeja: Você tem que cair, pra depois levantar. A gente bateu o pé mesmo ali no “Grangongon”. A gente falou “Essas são as músicas do antes e agora vai rolar o depois”.

Guerra: A gente ainda tem que organizar esse álbum.

FB: Então, em que pé tá a produção?

Guerra: Não vai ser um disco muito grande, porque a intenção é lançar esse disco e já lançar um EP algum tempo depois.

Verdeja: A gente tá guardando algumas músicas pra não ficar dez meses sem lançar um single. A gente não quer parar, não é lançar o álbum e, beleza, vamo jogar um fósforo na parede e ver o fogo pegar.

Guerra: Esse tempo que a gente teve pra Grangongon até o disco eu já acho terrível. Mas dá porque a gente quer fazer o disco direitinho e como vai lançar e tal.

FB: E em questão de sonoridade? Vocês têm tido uma pegada meio black music/R&B nos shows mais recentes [“Egocêntrica/Vice-Homem” chega a citar “Love to Love You Baby”, da Donna Summer]. O que vocês tem ouvido e imaginam que vai influenciar o novo disco?

A gente bateu o pé mesmo ali no ‘Grangongon’. A gente falou ‘Essas são as músicas do antes e agora vai rolar o depois’.

Guerra: Acho que black music é certo, mas é a aquele negócio, a gente têm influência, mas a gente não é negão e vai chegar e fazer baixo slap numa música. A gente ouve, é claro, mas não vai ser um álbum de black music. Por causa do meu projeto solo (Finalzinho Chegando) eu tenho esse negócio de ouvir muito house, mas acho que a influência não é tão grande. Mas eu tô ouvindo muito aqueles discos bem secos dos anos 1970, tipo Andrea True Connection, Minnie Riperton. É bem seco, é bem sensual e você tem, claro, um arranjo de orquestra, mas não é algo tão complexo. Esses discos nunca são muito over e são canções ainda. Ah, e a gente ouve fusion, agora! A gente ouve muito essas bandas bregas, Return To Forever, Yes… A gente não tem medo de falar isso. E é bacana porque esses caras são meio bregas, mas tem um senso de harmonia que é impressionante. Tipo o Larry Carlton.

Verdeja: Esses caras são fodas. É isso que eu ia falar, eu tô numa época muito oito ou oitenta. Ou eu tô escutando canções descaradas ou eu tô ouvindo improviso de dez minutos, muito jazz. E fusion, como o Guerrinha falou.

Guerra: Quando eu era moleque eu odiava esses caras. Odiava, odiava. Claro, eles têm essas improvisações de dez minutos, mas o senso de harmonia é muito inteligente. Se você tirasse os solos, sei lá, compactasse aquilo numa canção de quatro minutos, acho que ficaria a coisa mais inteligente do mundo. É tipo o Steely Dan – não é fusion, óbvio.

Verdeja: Steely Dan é uma banda de canção que tem muito dessa influência.

Guerra: Acho que o Steely Dan é a maior influência no Dorgas. É uma banda em que a harmonia é muito inteligente, mas eles não abdicam em nenhum momento da canção. Eu nao vejo o Dorgas funcionando como uma banda de improviso, nunca. Não nunca – acho que no futuro a gente pode se aventurar, mas a gente funciona muito bem com esse porto seguro de ir rumo à canção.

FB: A sessão do Oi Novo Som tem canções bem menos longas. E isso tem a ver com a direção do álbum, se vocês tão indo para um lado mais pop ou não.

Guerra: Acho que tirando “Campus Elysium”, que é realmente uma música que se desenvolve lenta, nenhuma canção passa de cinco minutos. Os singles são todos de música de uma época em que a gente ainda tava aprendendo a ser uma coisa. Era o momento “experimental”, sim. Com o tempo a gente soube que a gente ainda não sabia compactar um música, sentar e falar “Isso é verso, isso é refrão” em vez de falar “Isso é parte A e isso é parte B”. Eu não vou falar que [o disco] é mais “pop”, porque vai pra discussão do que é pop, mas com certeza é mais acessível. As músicas antigas nunca foram músicas que tinham esse negócio de precisão – e acho que era um charme, até, porque não era uma coisa muito no “clique”. Mas, se você perceber, a bateria é muito mais metronômica na questão da marcação, porque além de ser uma marcação de compasso mais direta, a gente queria dar um clima de precisao pras pessoas que não existia. A gente era uma banda meio “loose” e a gente queria [Guerra faz um movimento de mão cortando o ar, interrompendo o movimento com força]. Acho que esse é o grande ponto do disco: é um disco naturalmente metronômico.

FB: Vocês acham que estão mais em controle.

Guerra: Exatamente. Porque a gente queria ter mais controle da nossa música, focar mais, e isso levou a adotar certos aspectos e elementos que regem mais a composição. É um disco mais preciso e direto.

FB: É uma questão também de deixar claro que vocês são uma “banda de canção”, que é uma coisa que muita gente não tinha claro.

Guerra: Exatamente. É o primeiro álbum, é uma cara a tapa. A banda consegue construir essa imagem dela nas escolhas. A gente apareceu quando a gente nem era uma banda. As pessoas estavam falando da gente numa época em que a gente nem era tão confiante. Essa é a primeira vez que a gente vai poder mostrar um álbum com 100% de…

Verdeja: …confiança. A gente teve tempo de refletir sobre o que a gente realmente quer.

Guerra: Não é, tipo, mostrar “Grangongon” e falar “Ah… cuidado nessa parte, que a gente, sei lá, erra o tempo nessa parte” Não é assim.

Verdeja: Vai ser um produto bem… Selo “Dorgas” de qualidade.

FB: E agora pra terminar. Quais são os planos nos próximos meses? Tem algum single fechado?

Guerra: O primeiro com certeza vai ser “Hortência”. Tem um gap que é quando acaba a masterização do disco e tem o lançamento físico, e talvez a gente lance digitalmente o single. Mas nada muito certo, ainda. Claro, qualquer proposta de show que tiverem pra gente, a gente aceita. Na verdade a gente nunca organizou um show, isso é bizarro.

Verdeja: A gente meio que sempre foi chamado.

Guerra: Então a gente vai fazer show e gravar ao mesmo tempo. E é isso. Quando já tiver terminando o álbum, a gente vai entrar num pique maior. Meu palpite é que tudo vai estar certo, sei lá, em breve.

Verdeja: Acho que o segundo semestre de 2012 vai ser recheado de show do Dorgas.

FB: Uma coisa que eu nunca vi ser “esclarecida” em outras entrevistas. Como vocês fazem as letras? Como é o processo de criar uma letra como a de “Loxhanxha”, etc?

Guerra: Posso falar a real? É um negócio sério. Não vou dizer que letra não é importante, é importante sim, mas eu comecei a saber que o grande beabá da letra é que você tem que se preocupar com o ritmo de palavra. Não tô falando, sei lá, que eu sou percursivo tipo “blablabliblu”. Eu não tento ir muito profundo na letra. Tem frases ali que nem fazem sentido. Algumas fazem, outras não. Eu não acho que a mensagem seja uma coisa dada por letra. Muita gente acha isso, principalmente compositores, eles acham assim: eles têm uma música e a música é um intermédio pra eles falarem uma letra que seja totalmente a mensagem deles. Acho que a nossa mensagem se dá muito mais por questão de contexto e de som. Tanto é que as pessoas falam da nossa música e não da nossa letra. É isso, assim: se eu chegar pra você e falar que a música tal fala sobre tal vai ser mentira. Porque não é, sacou?

NOTA DO EDITOR: Semanas depois da entrevista, a banda acertou alguns detalhes sobre o álbum de estreia como quando, como e com quem vão gravar. Mais sobre isso na matéria No Estúdio com o Dorgas.