Adriana Calcanhotto | Micróbio Vivo

Adriana Calcanhotto

Micróbio Vivo

[Sony Music; 2012]

7.6

ENCONTRE: iTunes

por Túlio Brasil; 05/06/2011

Andar de um lado para outro nem sempre é sinônimo de confusão. Para o pragmático, a agenda dos últimos anos de Adriana Calcanhotto sugere um distúrbio – com atenção, percebe-se um carinho. O jeito de ela alternar sua carreira foi inserindo dois álbuns sob o nome Partimpim voltados para o público infantil, o disco da entre-safra “Maré” chama a MPB. O sucessor “Micróbio do Samba” reivindica um lugar na paginação chic que o gênero de natureza popular recebeu nos últimos anos. “Micróbio Vivo” consagra esse último repertório e dá brilho para a formação com Domenico Lancellotti, Alberto Continentino e, excepcionalmente, Davi Moraes.

Davi surge da doença. O cisto no tendão da mão direita de Adriana a proibiu de tocar violão e o amigo surgiu como auxiliar para a turnê. Infelicidade que seja não poder tocar as canções que compôs, é a inventividade diante da crise uma das novidades de “Micróbio Vivo”. Uma mpc, brinquedos e caixa-de-fósforos caem na mão de Adriana no acidental movimento à frente do instrumental de suas músicas. Como visto no modo que ressoa a imposição do contra-baixo em “Vem Ver”, chocado com a MPC disparada na última brecha do silêncio. Cria-se em paralelo uma harmonia entre violão e bateria, síntese da combinatória moldadora do álbum.

Num quase-acústico, o enlace de sambas privilegia andamentos não necessariamente lentos, e sim contemplativos. “Eu Vivo a Sorrir”, “Mais Perfumado” ou “Beijo Sem” na voz de outra intérprete ganharia contornos bem diferentes. Porque na leitura de Adriana elas crescem num lado comportado, próximo de um relato discreto da artista. Quando está vendida à banda, generosa, deixa a genuinidade dos instrumentistas prevalecer e se põe a arriscar também. “Pode Se Remoer” no final abandona o sambinha triste e cresce com a guitarra e uma camada superficial de ruídos.

Não é Sonic Youth, mas é +2 (trio formado por Domenico, Kassin e Moreno Veloso). Domenico canta sozinho a irônica “Te Convidei Pro Samba”, lançada antes em seu álbum com o trio. É de se louvar como a música, tão excêntrica, fortalece o conceito, aparentemente, tão frágil de “Micróbio Vivo”. O baterista declara “agora fiquei puto” e, no momento em que tudo poderia ser catapultado, sublinha a versatilidade do disco que opta por não “encaretar” o samba. Fato é que “Argumento”, de Paulinho da Viola, surge no show em outros tons para o mesmo diálogo.

“Micróbio Vivo” traz uma Adriana Calcanhotto destemida. Na sua roda tem contra-baixo, bateria, violão e às vezes guitarra e MPC. Retórica simples da cantora que adotou um gênero e se permite ir além. Usa-o para se expressar, e entende que fala por ele.