Ben Kweller | Go Fly A Kite

Ben Kweller

Go Fly A Kite

[The Noise Company; 2012]

6.6

ENCONTRE: Site Oficial

por César Márcio; 17/02/2012

Existe uma carga emocional em “Go Fly A Kite” maior do que a intenção do artista. Ben Kweller, provavelmente, não deve ter percebido a atmosfera de melancolia que seu sexto disco comporta. E se, por acaso, esse seja o primeiro contato com o artista de quem lê esta resenha, é provável que isto também passe despercebido. “Go Fly A Kite” é horário certo, é obrigação, é responsabilidade, é, enfim, a rotina da vida adulta. Ouvi-lo é ouvir que o tempo, irremediavelmente, passa.

Kweller começou muito novo. Sua banda adolescente, Radish, vivia a raiva dos outros, usando fantasias de Kurt Cobain e Eddie Vedder para lidar melhor com seus anseios juvenis. Solo, aos 20, o compositor debutou com a incrível espontaneidade e vitalidade de “Sha Sha”, naquele momento, um sincero retrato da juventude que o Radish fingia não querer viver. E aí veio a carreira. Vieram os filhos. Veio a vida adulta. O amadurecimento transformou Kweller na pessoa não especial que nos torna também. Ele é, agora, mais um: suas composições ainda permanecem redondas, bem intencionadas, mas, entre os bilhões de singer-songwriters da música pop, elas dificilmente falarão alto como aquelas da estreia.

Então, encarando este disco como uma conversa com um grande amigo que você não vê há anos (culpa das obrigações da vida adulta, porque é disso que estamos falando), estão reservados sorrisos sinceros no meio da tristeza nostálgica. Dá para lembrar a época em que vocês descobriram Weezer (“Time Will Save The Day”), Ben Folds (“Gossip”) e Wilco (“I Miss You”), e achavam que essas eram as melhores bandas do mundo. E aí a conversa acaba e cada um volta para sua rotina habitual, sem lembrar muito bem do que foi dito.

“Go fly a kite” é uma expressão equivalente ao “vai catar coquinho” brasileiro mas há uma desconfiança que a utilização seja literal. “Soltar pipa” talvez seja um desejo inconsciente de Kweller, tão “adulto” quanto parece hoje, do alto dos seus 30 anos. Um disfarce para sua vontade de reencontrar o jovem espontâneo que ele, definitivamente, não é mais.