Black Dice | Mr. Impossible

Black Dice

Mr. Impossible

[Ribbon Music; 2012]

7.0

ENCONTRE: Site Oficial

por César Márcio; 16/04/2012

A palavra acessibilidade nunca vai combinar com o Black Dice. Mesmo nos seus obscuros e menos famosos EPs iniciais em que poderiam ser classificados livremente como post-hardcore, Eric Copeland e cia. nunca foram de facilitar as coisas. Por isso, é bem estranho que tanta gente enxergue “Mr. Impossible” como o álbum mais acessível do grupo. Analisando friamente, talvez seja. Mas acessibilidade não parece ser a palavra correta.

Apesar de ser conhecido e celebrado como um grupo de artistas inclassificável e livre, o Black Dice parecia dividir uma cena com o Gang Gang Dance. E utilizando-os como exemplo contrastante de transição (a partir de “Saint Dymphna”), o adjetivo “acessível” parece conveniente, já que o GGD passou a utilizar progressões que nossos ouvidos estão acostumados desde sempre. O Sr. Impossível também faz isso, mas nos seus próprios termos. E esses termos, todos sabem, foram redigidos pelo Capiroto, em pessoa.

O que há de mais reconhecível é o hip-hop de “Spy vs. Spy” e a base de riffs em “Pigs”, duas faixas que dificilmente serão chamadas de “colagens”, termo comumente utilizado para se referir às composições do Black Dice e sugerido pelos próprios em suas capas de disco. Porém, mesmo nas colagens propriamente ditas (e elas continuam desprezando o acabamento tradicional), agora eles permitem a inclusão de truques conhecidos, um gancho, aqui e ali, para tentar garantir a coesão do fluxo quase diarréico de ideias. É uma estratégia para se reoxigenar e que funciona em grande parte das nove faixas de “Mr. Impossible”.

“Pinball Wizard” abre o álbum, vejam só, com uma linha de baixo, o que equivale a Michael J. Fox desenhando uma linha reta. As coisas retomam o caminho do descaminho na nada menos que demente “Rodriguez” , contudo, sempre com um linha rítmica acompanhável (mesmo que por pouco tempo). Durante a audição, o nível de absurdo mantido de “Broken Ear Record” a “Repo” é somente retomado na última faixa, a desconjuntada “Bronswick Sludge”. O revés dessa escolha é uma composição molenga como “Carnitas”, que não pende para lado algum.

Tendo em vista este novo procedimento, a maneira que a banda encontrou para seguir com sua música foi dar um passo para trás: incorporar o ritmo à sua arritmia, o que leva ao senso comum sobre este sexto álbum do Black Dice, sua acessibilidade. Dito assim, parece uma facilitação de conduta, o que a audição não confirma: “Mr. Impossible” poderia ser uma porta aberta, mas termina por ser apenas uma fresta.