Black Drawing Chalks | No Dust Stuck On You

Black Drawing Chalks

No Dust Stuck On You

[Crânio; 2012]

5.7

ENCONTRE: Site oficial

por Túlio Brasil; 08/11/2012

No Fita Bruta, a gente adota um discurso provocativo de que o Metá Metá é a maior banda de rock do Brasil. Isso vem porque o trio de afropunk esbanja uma porradaria invejável. Se tamanha força de expressão não se configura como rock, tem-se um problema grande de compreensão. Com benção à lógica da atitute, vamos pensar com justiça no Black Drawing Chalks.

Há pelo menos três anos, quando o álbum “Life Is A Big Holiday For Us” foi lançado, a banda goiana de stoner-rock tem tido o melhor desempenho naquilo convencionalmente determinado como atitude ‘rock’n’roll’. A trupe toca essa sina com naturalidade no novo “No Dust Stuck On You”. Alimentar uma fama dessa num gênero capital na música como o rock é difícil. Parte dos louros merece ser dividida com os amigos de cena de Goiania. A conhecida “capital do sertanejo” tem uma estrutura rock bem estabelecida com o Goiania Noise, onde pairam a Monstro Discos (produtora do evento), Fabricio Nobre e os reflexos do MQN. Cedo ou tarde, tinha que acontecer com alguém.

O bom alinhamento da produção, tanto sonora quanto graficamente, é o empurrão que o BDC teve para ficar na frente. O recibo das músicas de “No Dust…” é de que eles fizeram o melhor álbum do ano para quem quer bater cabeça por aí. Referencia básica é o Queens of Stone Age: está em todas as guitarras (“Famous”, “Swallow”); pegam uma carona parecida com a virada que o Arctic Monkeys deu a partir de “Humbug”; e tocariam no festival do Metallica (“Simmer Down”, “Imatture Toy”).

Toda essa relação pede um configurismo bom para solos de guitarra, baixo e bateria em tempo de marcar e dar pressão, vocalista com tons altos para levantar as músicas. Tais talentos tampouco não faltam aqui. O jogo é comprometido quando a compensação das canções conclama muito mais a uma cartilha do que a uma atitude. Em outras palavras, tem um passo-a-passo por vezes irritante no som do Black Drawing Chalks, uma burocracia muitas vezes tirada como chatice. Sistematicamente, as músicas se moldam num sistema onde o virtuosismo e a predominância das guitarras é absoluta; e sufoca qualquer ponto de fuga que diferenciem as canções. Resulta num “conservadorismo do rock”. Isso cansa.

No Dust…” tenta quebrar esse ranço, mas não funciona. Esta definição estética do BDC é intrinseca ao ponto de sobressair mesmo com um single mais lento, “Cut Myself In Two”; variações dançantes do tipo de “Disco Ghosts” — em que até soa como uma banda de indie-rock; e até a garageira “I’ve Got Your Flavor”, cuja a camada de ruídos aproxima o grupo a uma estética vintage contemporânea. Um enlace falho de intenções para dinamizar a estrutura do álbum, vítima da pré-definição rocker criada pela banda.

Com um retrato bem definido, o Black Drawing Chalks fez um álbum que pôs a prova a sua pecha astuta de “grande banda pequena” de rock no Brasil. Fazem álbuns produzidos para as manchetes, e por carência de público, ficam nas notinhas da seção “você deveria ouvir”. Uma opção ao caminho duvidoso do Capital Inicial e Detonautas, mas simplesmente não dá a mínima sensação de que irá crescer.

Há um gelo que precisa ser quebrado, a afirmação não vem e é asfixiante ver a banda não explodir. Veio “No Dust Stuck On You”, virão outros. Até agora, continuamos com uma banda de repertório afinado ignorada pela maioria e cultuada mais do que o necessário pelo nicho. O BDC não é medíocre, é o expoente de um gênero deslocado no Brasil. Falta pegada que leve o estilo para além dos preceitos do grupo. Para chegar no fã de System of a Down como chega no fã de Queens.