Grouper: The Man Who Died In His Boat

A fascinação se tornou rarefeita. Em meio a espetáculos e produções, é cada vez mais difícil distinguir o que fascina da encenação. Chegou-se a um ponto em que acordes de violão lentos, ora com uma corda desafinada, vozes sussurradas, e a mão de um produtor fã de indie-rock bastam para nutrir certa carência afetiva dos ouvintes. São bem previsíveis, no ponto de canções inéditas soarem como velhas conhecidas. Em parte nesse processo, há uma troca do fascínio pela correspondência. Na contramão desta estética fácil, o fascínio se refugia hoje numa forma menos chamativa através do ambient. “The Man Who Died In His Boat” do Grouper é um dos casos em que prova como o gênero toma essa missão.

O novo álbum do projeto da americana Liz Harris traz músicas de produção singela sem muitas justificativas. Por exemplo, não há um apoio ou base para as vozes que cantam palavras incompreensivas. O violão dedilhado sem métrica é tocado sem ligação com os demais elementos das músicas – ruídos, ecos e barulhos que nublam o som. Um verdadeiro teste de paciência para o ouvinte habitual de música pop. Esses detalhes juntos criam uma condição diferente de música, canção. É pela deselegância que o Grouper desembarca num formato cru como são as emoções – um porto além da simplicidade e longe das simulações.

As faixas passam fragmentos de histórias tristes e melancólicas desencontrados. A não-estrutura das músicas vai de encontro com o sentimento de vazio que elas carregam. O clima das faixas conta que tudo parece perdido; e ouvindo minunciosamente, nem a instrumentação se encontra. A música se faz em um vazio, representado por ruídos e extensivas pausas agonizantes. Num tom visceral totalmente distante da agressividade.

“The Man Who Died In His Boat” é ditado por uma austeridade de acordes e o tom constante das vozes. “Vital”, segunda faixa, destina mais espaço para os vocais de Liz numa quase-reza, os ruídos ao fim lembram o tratamento que Tim Buckley deu as músicas do clássico “Goodbye and Hello”. Enigmática, “Vanishing Point” sobressai com os timbres do piano Wurlitzer em contraste ao silêncio recheado de um chiado típico de LPs empoeirados, típico do álbum “An Empty Bliss Beyond This World” do Caretaker. Similaridades que não pesam tanto como referências, o norte real parece vir da cultuada Linda Perhacs, que abusou de uma quebra de formato semelhante em seu único disco.

Abstrair o silêncio é o método do Grouper para redesenhar de uma forma arcaica a essência da música. Sem compromisso com a utopia do sublime, “The Man…” se contenta em fascinar por um caminho menos melódico e mais cru.