Iconili | Tupi Mundo Novo EP

Nada é mais peculiar no meio musical do que as novidades fabricadas. A mitificação do afrobeat surgiu deste filão de mídia, e dada a oportunidade, o gênero se expandiu. Em terras brasileiras a progressão não é restrita apenas a cultura do hype. Atos interessantes como o Bixiga 70 e a Abayomy Afrobeat Orchestra fizeram terreno e no mínimo dá para dizer que conquistaram um público local (de seus estados, SP e RJ respectivamente). Os mineiros da Iconili fazem esse papel em BH, no EP “Tupi Novo Mundo” mostram a cara com temas instrumentais bem bolados.

Essencialmente, quando é colocada essa ‘galera do afrobeat Brasil’ em pauta não surgem mais do que comentários sobre as referências deste grupo. Ou seja: Fela Kuti, Ebo Taylor, Tony Allen e congêneres. Ou seja: um apanhado da fusão de jazz e funk surgida na Nigéria que teve nos nomes mais lembrados o seu auge. Um estilo de música criado para sessões grandes que ocorriam como uma espécie de ritual. A vertente etíope de jazz criada por Mulatu Astatke é outra lembrança recorrente — o apelo sensual e arisco da escola é irresistível O plano de fundo cultural da apropriação brasileira do afrobeat já o faz um novo gênero com a entrada de fatores que abrem a porta para mesclas não antes vistas e experimentações. Mas como esse registro da cultura negra foi ignorado por muito tempo aqui, a memória, intenção de resgate, acaba sobressaindo mais do que um apelo autoral das bandas. Comportamento que afasta boas bandas do excepcional e as deixa no seleto grupo dos ‘interessantes.’ Mas o som africano não serve apenas para uma banda de baile ‘alternativa’.

A Iconili em “Tupi Mundo Novo” mostra que pode ser a banda mais interessante do balaio. Sem demonstrar ânsia para estourar as influências negras, o pessoal de Belo Horizonte constrói com fineza os temas sem se perder nas referências. Percebe-se um cuidado para pessoalizar as canções, há um discurso que satisfaz o name dropping sonoro. A majestosa “O Rei de Tupanga”, música de abertura, entende como funciona o jogo. Com uma levada dançante e no mood certo, não exagera nos metais e mede bem a entrada da guitarra como protagonista da faixa — não só como um apetrecho rítmico. Mais lenta, “Areia” reforça o cuidado da Iconili em manter a elegância com timbres no ponto e um moog sonorizando com poucas notas no fundo.

Com tanto equilíbrio nas músicas, fica a impressão de um grupo consciente que pode agir mais. Soltar a vontade de tocar a música africana e definir um conceito próprio. Isso não quer dizer forçar uma barra para juntar com samba ou bossa nova, basta uma atitude criativa sem medo de falar mais alto que os cânones.