Perfume Genius | Put Your Back N 2 It

Perfume Genius

Put Your Back N 2 It

[Matador; 2012]

6.5

ENCONTRE: The Guardian

por João Oliveira; 17/02/2012

Perfume Genius é a alcunha do compositor de Seattle que atende pelo nome de Mike Hadreas. Depois de ter sido “descoberto” pelos caras do Los Campesinos! através do MySpace, Hadreas lançou seu primeiro e elogiado disco “Learning”, em 2010. “Learning” era basicamente o desaguar de alguns anos de trabalho composicional de Hadreas e trazia melodias delicadas, uma atmosfera onírica e algumas canções que realmente se destacavam. É aquela historia: você tem uma vida toda para fazer seu primeiro disco, mas apenas poucos meses ou anos para construir o trabalho seguinte.

Então chegamos em 2012, menos de dois anos depois da estréia do rapaz e não custa perguntar: o que há de novo? À primeira vista, “Put Your Back N 2 It” dá a impressão de ser um disco mais ambicioso musicalmente do que o debut, começando com uma vinheta orquestral cujo som preenche um espaço vasto, porém essa abordagem logo se esvai à medida que a valsinha de “Normal Song” vai dando a tônica climática do álbum. O que se destaca no som do Perfume Genius é a delicadeza da voz e composições de Hadreas. Calcadas na voz à la Sufjan Stevens e num piano não muito distante de Norah Jones, as breves canções tem o mérito de criar um clima calmo, quase sonolento. Toda essa coesão sonora, uma das marcas interessantes do trabalho, acaba, no entanto, funcionando em detrimento de quem ouve, pois a falta de momentos realmente marcantes deixa a impressão de que aqui não temos uma coleção de canções. O que fica na memória é uma vibe constante, e não canções que evocam imagens. A vibe tranqüila e sonolenta não conjura imagens, no máximo aquele torpor letárgico de estar meio acordado, meio dormindo.

Mas há alguns momentos do disco que se destacam, e é justamente e infelizmente aí que o disco se perde. Quando começamos a prestar atenção e gostar das músicas, elas acabam repentinamente (a maioria das faixas acaba antes dos 3 minutos). Esse abortamento precoce das canções fica destacado em “Hood”, faixa com andamento mais acelerado que o resto do álbum. Com boa pegada e melodia, prende nossa atenção de imediato, mas logo termina sem desenvolvimento. Essa parece ter sido uma intenção consciente de Hadreas – “dei meu recado, vou embora” – mas mesmo assim não deixa de parecer que ele poderia ter desenvolvido mais seus temas, mesmo trabalhando com uma paleta concisa de sonoridades.

Talvez muito da força das canções de Mike fiquem mesmo perdidas da tradução, já que com certeza as letras com uma marca própria foram um dos fatores que o fizeram se destacar. Porém, isso, para um público brasileiro, fica difícil de discernir logo de cara, e talvez nem valha a pena o esforço, pois no geral as músicas falham em agarrar o ouvinte pela própria força emocional do som.

Boas letras, atmosfera, boa produção – que remete vagamente a um Talk Talk em fim de carreira – e bom gosto, tudo isso não é garantia de um grande disco. No final das contas, a falta de canções marcantes é o que distingue um disco como este de álbuns excepcionais como os últimos de bandas como os Wild Beasts ou Beach House, discos que trabalham com um conceito limitado de sons mas que conseguem temperar com variações interessantes e principalmente canções que conseguem atingir num nível emocional. Simplificando: é disco de muito bom gosto, mas não muito bom de gostar. Se o nome do disco de estreia era “Learning”, podemos dizer que Hadreas ainda tem o que aprender.