Existe uma puberdade lucrativa (e, na maioria das vezes, cansativa) no pop-rock feito em português. Basicamente, os grandes nomes do rock vendido para adolescentes escoram-se em clichês do screamo e do indie-rock para escrever besteiras juvenis. Em cima do palco, um sujeito com preocupações adultas como a data de vencimento do IPVA e do IPTU ou mesmo quantas fraldas deve levar para casa ao fim do expediente canta alguma dor explicada de forma bem rasa ou alguma felicidade épica. No final das contas, era mesmo só algum arquivo .gif.

O sucesso não postrou-se à porta do Supercombo por motivos caprichosos. A banda sempre pareceu pronta e, mesmo para o ouvido já cansado do mix de importações musicais do rock contemporâneo, era óbvio que o golpe liderado por Leonardo Ramos nascera mais pronta que um brutality. No entanto, a opção pelo non-sense e por uma necessidade de alguma diferenciação dos pares mais próximos fez com que o Supercombo não fosse lá muito compreendido por quem se emocionava com uma canção do Fresno ou pulava no sinteco do quarto decorado ainda de forma pré-adolescente com alguma canção do Glória. Os exemplos do mainstream optaram por fórmulas simples (ruins, quase sempre); o Supercombo optou por fórmulas que, simples ou não, eram sempre superiores em detalhes — ainda que, as letras corassem algum ouvinte menos maleável às dores menores do eu que Ramos fazia careta forte pra cantar. Em “Amianto” isto é finalmente quebrado.

Bem, de alguma forma, Leonardo tentara o caminho mais fácil com outro projeto, o 2ois. Mas já era 2011 e também tarde demais. Os corações adolescentes que acompanharam as hipérboles adolescentes como “Ciúme do Tamanho do Planeta Terra” acabaram restringindo-se aos paulistanos, alguns outros capixabas, ou até mesmo aqueles que acompanharam a dupla Ramos e General Sih despontando no programa “Astros” do SBT. Enfim, no mesmo ano em que o 2ois também anuncia o seu retorno, eis que vinga a tentativa de um produto da parte das ambições de Ramos e turma.

De repente, todas as angústias ditas anteriormente tomaram uma forma mais consciente da universalidade das coisas. Por exemplo: a primeira faixa, “Matagal”, chega ao final com os versos “Me deixa ter o meu próprio universo, um matagal no meio do oceano”. Aqui, o não fracasso de interpretação e composição é amplamente apoiado por essa consciência que permeia “Amianto”. Não é mais um pedido jogado ao vento, tirado de um gerador de patetices adolescentes. É, em alguma proporção, semelhante a

“Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais…”

de Guilherme Arantes. A música é esta. O que faz Arantes e Ramos não soarem patéticos é justamente assumirem, de vários jeitos, suas buscas e angustias por meio de metáforas que não soem apenas pretensiosas. Por outro lado, a dinâmica de “Amianto” é agraciada por outros temas que, ainda esbarrem no eu, trazem um respiro para a obra como um todo. “Piloto Automático” e “Fundo do Mar” são narrativas que, mesmo pouco esforçadas liricamente, são obras superiores a qualquer canção que permeie as ondas de rádios como 89FM ou Mix FM — esta última, de refrão surpreendente às tentativas da banda até aqui; “O Menino” e “O Soldadinho” ampliam os personagens dessas várias histórias do álbum e “O Peso da Cruz” e “Amianto” surgem como as melhores letras.

“Amianto” chega atrasado para quem busca na música algum desconforto que leve à inspiração. No entanto, é um produto ainda em tempo para um tipo de público que parece não amadurecer suas buscas — e isto é o pior retrato da questão uma vez o Supercombo soe bastante sofisticado no bruto e na produção como um todo em comparação ao que se empurra no gênero atualmente. É, de fato, um disco para se ostentar e gabar-se de que, sim, ainda tenha ganhado dinheiro como publicitário, fui, sim, músico. Contudo, tal qual um chute no vácuo produzido, não por erro, mas propositalmente (ou mesmo um Hadouken feito conscientemente por meio de um meia-lua soco e não por que apertou-se todos os botões), “Amianto” pode ser bloqueado como acontecia no videogame: um aperto mais ligeiro e pronto: toda a parafernália visual e sonora para nos braços do personagem adversário.

É nesse momento que se faz um outro golpe, o da sinuca. Afinal, se até bloqueado o golpe tira um tanto de sangue do adversário, quem está certo? Os eternos adolescentes produzidos por Rick Bonadio (mas que passaram até da fase do chefão Faustão/Gugu/Eliana/Celso Portioli/Qualquer programa que coloque música em um mesmo patamar de um show de calouros) ou tentativas mais rebuscadas dessa mesma procura que faz o Supercombo (e que estarão fadadas aos ouvidos cansados e pouco ambiciosos dos frequentadores do Hangar 110)?