Tatá Aeroplano | Tatá Aeroplano

Tatá Aeroplano

Tatá Aeroplano

[Independente; 2012]

6.0

ENCONTRE: Site Oficial

por Yuri de Castro; 31/07/2012

À frente de sua última banda, Tatá Aeroplano era, claramente, um dos poucos que cumpriam bem o exercício de compor  neste gênero que vem se chamando, infelizmente, de cenário indie brasileiro (o termo é tão diluído quanto mal traduzido). Tatá conduziu a música do Cérebro Eletrônico por três álbuns; dois deles quase impecáveis: experimentais à medida em que exercitavam o pop. Ouvir o último álbum do Cérebro é esquecer por alguns minutos como seus pares de gênero pouco praticaram a composição como algo inusitado. Até hoje, a banda de Tatá é a única independente desde então que poderia ser convidada para lançar uma coletânea ao estilo greatest (un)hits: “Decência”, “Cama”, “Pareço Moderno”, “Sergio Sampaio, Volta”, “Dê”, “O Fabuloso Destino do Chapeleiro Louco”, “Mar Morro”, “Desquite”. Em álbum que carrega apenas seu nome artístico, a canção “Machismo Às Avessas” poderia se juntar à coleção de observações cotidianas e amorosas do artista (ouça o disco aqui no Fita Bruta ou baixe no site do cantor).

Mas Tatá estreia solo sem dar a sensação do debute — e isso é de culpa inteira do cantor e compositor. Ao estabelecer com tanto êxito seu estilo por todas as bandas que passou, coube a seu álbum homônimo não carregar a contradição. Logo ela, que está em cada cena de “Anticristo”, filme de Lars Von Trier e um dos que mais marcaram Tatá Aeroplano — cinéfilo confesso.

Exagero dizer que o disco poderia ser continuidade da discografia do Cérebro Eletrônico. Tatá consegue, em alguns momentos, compôr filhas ainda mais diretas (e menos inspiradas) da Tropicalia que tanto influenciou sua banda. Ainda que possuam molejo, duas faixas parecem vindas de um compositor e músico pouco inspirado: “Tudo Parado Na City” tem clara inspiração dupratiana e “Perigas Correr” brinca com possibilidades já feitas com louvor em outras oportunidades por Tatá.

O álbum, no entanto, não deixa de ser denso. Os arranjos de Junior Boca (produção, guitarra), Dustan Galla (baixo) e Bruno Buarque (bateria) estão ao lado do cotidiano lírico de Tatá Aeroplano que funciona, sempre, quando é levado das quatro paredes da intimidade para os muros do lado de fora. O despirocado personagem de um passado recente é, em 2012, alguém mais enjoado. O fosco vintage da produção do álbum leva à memória, mas também ao enjoo e cansaço do protagonista. Assim, “Sartriana” pode ser classificada como a explicação teórica e contemporênea de “Ska”, dos Paralamas do Sucesso. Lado a lado, a única coisa que parece faltar é um arranjo mais sedutor para a música que inicia o disco. E aí se percebe que não, não falta. É uma impressão falsa essa necessidade da sedução estar presente pois há uma vivência gasta e cansada nas letras atuais de Tatá Aeroplano. Uma vitalidade como a de “Decência” parece que não caberia mais no atual repertório do cantor. É a bad-trip em forma de cansaço, oriunda de noites mal dormidas e disfarçadas com conversas e riso trôpego e bêbado. O disco, de alguma forma, funciona se encarnada esta possibilidade.

Eu demorei a perceber isso não fossem os 10 minutos de “Par de Tapas que Doeu em Mim”, logo na cara do lado A do álbum. Ela arrefece o tesão do ouvinte já familiarizado com os esforços de diálogo de Tatá Aeroplano com este submundo visível, comprável, acessível, odiado e amado, porém sempre romantizado de São Paulo e de seu centro. O porém da bad-trip é um dos mais importantes elementos deste registro. Ainda há um ótimo compositor e, ao que parece, a euforia seguida da ressaca que pode conceituar toda a cena independente brasileira (não só metaforicamente, mas também líricamente) foi captada pelas crônicas de Aeroplano. Apesar disso, está claro, não é uma estreia surpreendente.

Depois dos 30, há uma estranheza naqueles que ainda insistem em comemorar cada sexta-feira com porres e otimismo momentâneos e precursores de um péssimo sábado de ressaca. O disco como um todo sacou isso e, sendo uma estreia, deixou Tatá Aeroplano e suas crônicas na corda bamba: se cair de um lado, vai pra maturidade careta; se cair do outro, pode cair no clichê do velho-cool-demais-pra-ser-velho. Que sem desequilibrá-lo para um único lado, os ventos empurrem Tatá apenas pra frente.