Animal Collective | Honeycomb

Vá lá: a regra com o Animal Collective foi sempre esperar o inesperado. Mas na aparente falta inabalável de precedentes o que se ouve no primeiro single pós “Merriweather Post Pavillion” (incluído, aí, o “Fall Be Kind”) há uma carga imensa de passado, de história: a História primeira, mãe de tudo quanto é música boa, a história maiúscula da música pop da última década e a história “minúscula” de um quarteto americano, cujo gosto mais pelo risco do que pelo novo definiu uma geração inteira.

Ouvir “Honeycomb”, então, é tanto um exercício de descoberta quanto de memória. Descoberta porque, da última vez em que ouvimos algo dos rapazes, Avey Tare e companhia trabalhavam em direção a uma resolução. “Merriweather” significava (e significa) a conclusão de uma carreira inteira, a síntese de tudo que havia de bom numa discografia. Parece óbvio, com achegada de “Honeycomb” que qualquer pretensão de convergência ficou no passado, pois o caminho, aqui, é o do conflito. Põe pra brigar, em pouco mais de três minutos, o grotesco cartunesco de “Peacebone”, as cores de “Water Curses”, os pequenos surtos de “Here Comes the Indian” e a percussão orgânica de “Feels”. Quando a porradaria acaba, o que sobra é uma “canção” que intriga na mesma medida em que satisfaz. Uma faixa que eu chamaria, se eu tivesse o poder de chamar as coisas, de inconclusa, não por ser incompleta, mas porque não tem um só centro, um só propósito. Uma faixa aberta, na carreira do AC, porque torna o que vem adiante realmente difícil de prever. Dito isso, o evidente em “Honeycomb” é que depois de ter feito basicamente o disco que justifica toda a existência da banda, o Animal Collective continua à procura. Do quê, exatamente, ninguém se arrisca a dizer, mas pelo histórico do quarteto, ninguém precisa ficar preocupado.