Cobertura Novas Frequências: SP Underground, Stephen O’Malley @ Oi Futuro Ipanema

Fotos: Eduardo Magalhães/I Hate Flash

Um trio quase brasileiro que nunca havia tocado em palcos cariocas, o São Paulo Underground criava a mesma expectativa de uma atração internacional na quarta noite do Festival Novas Frequências. Formado pelo cornertista americano (que morou no Brasil por muitos anos) Rob Mazurek, e pelos companheiros de Hurtmold Guilherme Granado e Maurício Takara, o SPU estava tão perto e tão longe que já parecia impossível que eles tocassem por aqui. Mas olhe o line-up desse festival: o que é impossível para o Novas Frequências?

E na última quinta estavam lá, no pequeno teatro de Ipanema, Mazurek, Granado e Takara, apresentando o que de melhor se faz em música brasileira, atualmente. O show foi baseado nas composições do último álbum, “Beija Flors Velho e Sujo”, com uma surpreendente fidelidade ao que foi apresentado em estúdio. Há uma natureza improvisadora no SPU, que é do próprio jazz, mas que se restringe ao campo da impressão. Há muito ensaio e coordenação entre os membros, vistos mais claramente no final dos momentos mais escapistas, com os três músicos retornando juntos para a melodia inicial.

Essa dinâmica comum das composições do SPU (também herança do jazz) funciona perfeitamente ao vivo. Principalmente, porque é um trio de músicos espetacular. Takara estava especialmente bem e toca com uma frieza que impressiona. Granado foi o show-man da noite, fazendo as apresentações e tocando com uma empolgação talvez etílica. E por fim, Mazurek, como sempre fio condutor do trio, se apresentando com um fôlego (e uma boa quantidade de pedais) que o transformavam num naipe de metais.

Foi a apresentação mais musical do NF em 2013. Pode até ser arriscado tentar uma afirmação desses em um festival que desafia constantemente o conceito do que é música, mas vamos ficar aqui com a definição mais convencional. É um festival de experiências tão intensas, que o SP Underground ficou com cara de tradicionalista. Tem alguma coisa de tradição ali, é claro, mas não é só isso. Mazurek e Cia. levam a tradição para frente, para um embate belíssimo com as novas frequências que dão título ao festival. Definitivamente, um dos melhores shows entre todas as edições do festival.

Stephen O Malley

E aí veio o DEUS METAL. Na quinta noite de shows (que ainda teve uma ótima abertura com o barulho industrial do capixaba GIMU), a plateia do Novas Frequências 2013 foi violada pela descomunal virilidade do DEUS MAIOR DO METAL. É até um pouco difícil teorizar sobre o que aconteceu na fatídica noite de sexta feira. Não é uma experiência sensorial. É uma coisa física, mesmo. Pra se ter uma ideia, foram distribuídos protetores de ouvidos antes da apresentação. Sente o drama.

O teto do teatro estava caindo. Pode até parecer exagero. E pode até ser que seja, porque quem estava ali via o mundo de uma maneira diferente. A cada estocada da DIVINDADE SUPREMA DO METAL parecia que a estrutura do teatro ia desabar. Ninguém ali parecia se importar porque quando você é tocado pelo TODO PODEROSO SENHOR DO METAL não dá pra ligar pra besteiras como fios de refletores despencando na sua frente (isso aconteceu de verdade).

Stephen O’ Malley já havia se apresentado no Brasil, quando foi uma das atrações do finado Sonar São Paulo, em 2012, com o KTL. Num salão enorme, o impacto não foi tão grande quanto esse. No Instituto Oi Futuro, o SOBERANO ETERNO DO METAL promoveu uma brutalidade visual, sonora e física. E o mais curioso é que, por trás de tanto estímulo intenso, há uma reticente atmosfera melodiosa e melancólica na guitarra de O’Malley. Isso é porque o DEUS METAL, apesar de sua divindade, ainda guarda algumas semelhanças com os seres humanos comuns.

Tentarão durante anos descrever o que aconteceu no dia 7 de dezembro de 2013, no insólito teatro da Rua Visconde de Pirajá. Mas essa experiência precisa ser vivida. Se você não foi tocado pelo DEUS METAL, não dá pra saber como é.