Action Bronson & Party Supplies | Blue Chips

Action Bronson & Party Supplies

Age Of Energy

[Nothern Spy; 2012]

7.5

ENCONTRE: DJ Booth

por Rafael Abreu; 04/04/2012

“Blue Chips” é “só” um disco de rap, e é por isso mesmo que sua mágica se resume a muito pouco, quase nada. Numa jogada de gênero conscientemente primitivista – ao contrário das besteiras inadvertidas ou simplórias, igualmente “básicas”, porém piores – Action Bronson e Party Supplies fazem hip hop como se estivessem no início dos anos 1980: pegam alguns samples, mantém-nos em loop e mandam umas rimas em cima.

O jogo de “Blue Chips”, então, consiste na manutenção de um ritmo, na renovação constante do interesse nas batidas e, nesse processo, na própria permanência – na mente, na lembrança, no gingado – delas. Que o disco comece por uma faixa sem percussão nenhuma é tão engraçado quanto adequado, e “Pouches of Tuna” é música de suspense justamente por isso: difícil ouvir a seção de cordas, em repetição eterna, sem esperar um estouro, um 4/4 que fosse pra marcar os versos de Bronson. E é só quando essa espécie de introdução termina que se percebe que o “estouro” que se esperava vem nas próximas dez, (onze? doze?) faixas. Pois o grosso do álbum se empenha em perpetuar justamente esse momento, desdobrar o ponto de ruptura e pulsão por muitas outras faixas.

Em questão de complexidade, não é preciso muito, além de algum tipo de bom senso artístico: arranjam-se um, dois, três fragmentos e, com sorte, se estabelece algum tipo de fluência, cadência – de flow. A partir daí, em discos como esses, as coisas só andam – ou desandam, fosse outro o caso. E é por escolher tão bem o momento em que pretende se fixar que “Blue Chips” fica longe de ser um disco acomodado, aconchegado, que os fragmentos, aqui, acabem se convertendo em estilhaços: cortam muito, portanto, numa bravata tão típica quanto a arrogância de um MC.

Tudo num esquema facilmente prosaico, não fosse a qualidade das composições, a força das vozes, a desenvoltura de cada uma das faixas, quase sempre abruptamente interrompidas, como se a intenção fosse mostrar que é preciso dar um fim a elas (se deixassem, podiam rolar por um bom bocado, ainda). Action Bronson e Party Supplies não vão tanto à frente quanto cavam seus próprios lugares, distinguem, na execução de um gênero, vozes aptas. Ouvir “Blue Chips” é, de fato, ver um atleta correr no mesmo lugar. Tensionam-se os músculos, levantam-se as pernas e o que se tem é um exercício de exemplo e demonstração, sem muito destino e com um bocado de resultados. Ouvir cada uma das faixas do que acaba por se chamar de mixtape é, compreendida a analogia, prestar atenção a cada um dos detalhes do tal atleta: se impressionar com a constância da respiração, se deter na volta da panturrilha, observar, de perto, a certeza dos movimentos. E perceber, ali, algum tipo de força.